30 de abril de 2013 - 17h16

Os trabalhadores do Hospital de Ovar manifestaram-se hoje contra a intenção do Governo de devolver esse equipamento à Santa Casa local, que, pouco recetiva a acolhê-lo, considera a hipótese de o passar para o Grupo de Misericórdias de Saúde.

Uma representante das dezenas de funcionários que hoje participaram no protesto - e cujo nome não quer ver publicado porque as suas declarações "veiculam a opinião do grupo em geral" - disse à Lusa que a iniciativa visava "ver esclarecido qual vai ser o futuro do hospital enquanto unidade prestadora de cuidados de saúde".

"Esta situação é inadmissível", defendeu a funcionária. "Andámos aqui a investir tanto nos últimos anos, temos um hospital modernizado, estivemos entre os cinco melhores na área da cirurgia de ambulatório e agora é uma pena se tivermos que dá-lo de mão-beijada à Misericórdia".

Declarando que "está tudo envolvido em muito secretismo" e que "ainda não se sabe se a gestão privada vai pôr em risco os trabalhadores e os seus direitos", a porta-voz afirma que "ninguém quer considerar a hipótese de o hospital fechar, apesar de o Governo ter avisado que, ou ele passava para a Misericórdia, ou encerrava".

O provedor da Misericórdia de Ovar declarou à Lusa, contudo, que o fecho da unidade terá deixado de ser uma alternativa. "Na reunião de hoje [com a Administração Regional de Saúde do Centro e com a União das Misericórdias] foi muito reafirmado que o hospital não é para encerrar, o que me deixou mais descansado", admite Albino Almeida.

Uma das possibilidades que resta, segundo a porta-voz dos trabalhadores, é assim o reforço da unidade de Ovar enquanto "hospital de proximidade apostado em setores que não têm sido muito experimentados - como a estratégia de levar o hospital a casa das pessoas em vez de esperar que sejam elas a procurá-lo".

Isso implicaria, contudo, que o Hospital Francisco Zagalo fosse efetivamente entregue à tutela da Misericórdia de Ovar, que não terá estrutura financeira para tanto. "Estamos há 37 anos fora da área hospitalar e entretanto criámos uma dinâmica de respostas sociais que não pode ser posta em risco por causa do hospital", realça o provedor da Misericórdia de Ovar. "Só ficaremos com ele se não houver mesmo mais nenhuma alternativa", acrescentou Albino Almeida.

A segunda solução de que os trabalhadores dizem "ouvir falar" é "a passagem do Hospital para a Misericórdia do Porto". Contudo, o provedor da Misericórdia do Porto garantiu à Lusa que "essa hipótese não existe", pelo que em causa estaria antes a passagem do Hospital de Ovar para o Grupo de Misericórdias da Saúde - que é a estrutura através da qual a União das Misericórdias Portuguesas gere os seus equipamentos nessa área de intervenção.

Mas contactado o responsável indicado pelo secretariado do Grupo de Misericórdias da Saúde não esteve disponível para declarações e foi Albino Almeida, da Misericórdia de Ovar, quem confirmou essa possibilidade.

"Como a União das Misericórdias já tem esse Grupo para tratar do setor operacional da Saúde, se decidir ficar com o Hospital de Ovar, é de esperar que seja essa estrutura a assumir a gestão da unidade", explica.

O presidente da Câmara Municipal de Ovar, por sua vez, garante que o hospital local "não dá prejuízo nem tem problemas de gestão que justifiquem que se altere o que está bem". Realça que essa unidade "até está a prestar um excelente serviço aos outros hospitais da região, impedindo o seu congestionamento", pelo que deveria "continuar a funcionar como um hospital público e ver reforçadas as suas valências".

O Bloco de Esquerda também anunciou que, na próxima sexta-feira, levará à discussão na Assembleia da República um projeto de resolução que recomenda ao Governo "a manutenção da gestão pública dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde cujos edifícios pertencem às misericórdias". Nessa situação inclui-se não apenas a unidade de Ovar, mas também as de localidades como Régua, Cantanhede, Anadia, Montijo, Serpa e Famalicão.

A Lusa contactou também a Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, mas não obteve quaisquer esclarecimentos sobre o assunto em tempo útil.

Lusa