21 de janeiro de 2014 - 17h26
O edifício do primitivo Hospital de Aveiro, exemplar classificado de Arte Nova desenhado por Silva Rocha, está a sofrer obras de conservação, com vista ao seu aproveitamento para serviços de gestão e apoio, anunciou a administração hospitalar.
De acordo com o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV), José Abrantes Afonso, aquele órgão tomou a decisão de efetuar obras de recuperação da estrutura "com o apoio de arquiteto, que, a título gratuito, têm colaborado para que se mantenha o respeito" da Arte Nova.
O custo estimado da obra em curso, no que respeita ao isolamento e pintura das paredes, é de 50 mil euros, enquanto o pavimento aplicado foi oferecido por uma empresa da região e parte dos trabalhos está a ser feita por recursos humanos do CHBV.
Com a recuperação do edifício, o conselho de administração teve em vista libertar espaço no edifício central do Hospital de Aveiro, para centralizar todos os serviços que envolvem atendimento a utentes.
O edifício Arte Nova é reservado para apenas para serviços de gestão e apoio.
Segundo Abrantes Afonso, o espaço do "Jardim de Inverno", será aproveitado como zona de estar e de convívio, com exposições de pintura e escultura.
No edifício está ainda prevista a criação de um refeitório "devidamente equipado, uma vez que o recentemente criado já não satisfaz completamente a procura".
Antigo Hospital da Misericórdia, o edifício data de inícios do século XX, da autoria de Francisco Silva Rocha, um dos principais cultores do estilo Arte Nova em Portugal, mas sofreu ao longo dos últimos anos abandono e degradação, tendo-lhe sido retirados alguns elementos decorativos daquele estilo.
Segundo o historiador Amaro Neves, "no final da década de 70, foram substituídos o gradeamento em ferro forjado Arte Nova e os pilares em pedra de Ançã e demolida a enfermaria de infetocontagiosos, que possuía larga varanda em ferro forjado, dentro do mesmo estilo".
Amaro Neves, contactado pela Lusa, elogia as obras de conservação, mas manifesta algumas reservas quanto à cor com que a fachada está a ser pintada: "tenho algumas reservas. Penso que originalmente o edifício era cor-de-rosa, e devia-se procurar acertar o mais possível pelas cores do tempo e manter o estilo".
O historiador lamenta que se tenha já "perdido muito de tudo o que era o edifício", indicando que "o pavimento que era da época foi levantado e andou a ser vendido" às peças, tal como mobiliário, peças de ornamento, ou candeeiros.
"Pelo menos, a traça original de arquitetura está lá e mantém-se como era", conclui.
Lacerda Pais, provedor da Misericórdia de Aveiro, que erigiu o Hospital, também se congratula com as obras, afirmando que a instituição "está plenamente satisfeita com as obras de conservação do edifício Arte Nova", e confirma que "já desapareceu muita coisa" do original e não só.
Além de elementos decorativos do edifício, também parte do património da Misericórdia que ali estava guardado, como objetos de arte sacra e documentos antigos, levaram "descaminho" com a ocupação feita em 1975.
"O acervo documental da Misericórdia é muito importante para a história de Aveiro porque o que existia de certas épocas perdeu-se nos incêndios da Câmara e do Governo Civil. Há certas épocas de Aveiro que só no arquivo da Misericórdia, que tem 515 anos é que estava coberto e desapareceram dali muitos dos documentos, alguns dos quais apareceram à venda em alfarrabistas em Lisboa", explica.
Lusa