Vários hospitais estão a dar aos novos doentes com esclerose múltipla apenas o medicamento, o mais barato, independentemente da prescrição médica, com o objetivo de poupar dinheiro, alertou hoje a diretora da associação representativa daqueles doentes.

Segundo explicou Manuela Neves à agência Lusa, a propósito do Dia Mundial da Esclerose Múltipla, que hoje se assinala, a situação não é nova, começou no Hospital de Braga, mas tem vindo gradualmente a estender-se a vários hospitais do país.

Depois do Hospital de Braga, o grupo conhecido por G14 – grupo de hospitais do Norte que se juntaram para fazer a compra centralizada de medicamentos – passou também a disponibilizar apenas o fármaco mais barato, havendo já indicação de que o Hospital Garcia de Orta terá adotou a medida com dois doentes, disse a diretora da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM)

Segundo Manuela Neves, para esta doença existem seis fármacos de primeira linha diferentes entre si, que têm resultados diferentes nos diferentes doentes.
“Os hospitais decidiram comprar um único medicamento, dado indiscriminadamente independentemente da prescrição do neurologista. Pode ser uma situação complicada e grave, porque os medicamentos são diferentes e não têm eficácia igual em todos os doentes”, afirmou.

O caso é ainda mais grave porque ao adotar esta política, os hospitais ignoram a prescrição feita pelos neurologistas que acompanham cada doente. Ou seja, independentemente do que é prescrito, os hospitais dão sempre o mesmo.

Há contudo uma garantia deixada à SPEM pelos conselhos de administração hospitalar, que é a de disponibilizarem outros medicamentos a doentes que comprovadamente necessitem e mediante um pedido especial.

O problema é que nos casos em que houve pedidos as respostas demoraram tanto tempo que os neurologistas decidiram que o doente deveria continuar a tomar a medicação anterior, para não ficar prejudicado.

A SPEM tem estado envolvida com as restantes associações de esclerose múltipla nacionais na discussão deste tema, levando-o não só às reuniões de Conselho de Administração dos Hospitais, mas também à Assembleia da República (grupos Parlamentares e Comissão de saúde).
Manuela Neves disse ainda que a SPEM já foi recebida pela Entidade Reguladora da Saúde e pela Ordem dos Farmacêuticos, faltando apenas o Ministro da Saúde, ou um seu representante, a quem já pediu audiência.

A questão está também em discussão internacional, com as associações europeias da patologia a terem o tema na agenda para levar a futuras reuniões no Parlamento Europeu.

Este ano assinala-se, pelo quarto ano consecutivo, o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, com o qual a SPEM pretende sensibilizar a sociedade civil para a existência da patologia e alertar para as necessidades específicas destes doentes, seus familiares e prestadores de cuidados.

30 de maio de 2012

@Lusa