
Pode dar-nos cinco dicas para erradicar a SIDA numa cidade como Lisboa?
A estratégia a seguir em Lisboa não é muito diferente da que está recomendada para outros grandes centros urbanos, embora tenha de ser adaptada a este contexto específico.
Qual é essa estratégia?
Precisamos de eliminar as barreiras de acesso à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento, especialmente nas populações mais vulneráveis: migrantes, homens que têm sexo com homens, trabalhadores do sexo e pessoas que usam drogas.
Felizmente estamos a conseguir rastrear cada vez mais casos, o que se conseguiu através do aumento do acesso aos testes, sobretudo em estruturas próximas das pessoas
Temos de diminuir a discriminação e desmistificar algumas crenças associadas à infeção pelo VIH/SIDA. É necessária mais informação sobre a doença para a população em geral, sobretudo sobre os meios disponíveis para a prevenir e rastrear.
Como é possível fazer isso?
Através de uma maior articulação entre todos os parceiros que desenvolvem trabalho na área do VIH/SIDA, desde a sociedade civil até aos órgãos governamentais, passando obviamente pelos cuidados de saúde.
Por fim, é necessário um investimento financeiro e um compromisso de todos para implementar estas estratégias de forma sustentável, e efetuar a respetiva monitorização e avaliação. São estas as cinco dicas.
Porque é que taxa de novos diagnósticos de VIH está a aumentar na comunidade gay?
Porque felizmente estamos a conseguir rastrear cada vez mais casos, o que se conseguiu através do aumento do acesso aos testes, sobretudo em estruturas próximas das pessoas. O aumento do turismo sexual e os fluxos migratórios também podem estar a contribuir para este aumento.

Quem está em risco de contrair VIH?
De forma simples? Todas as pessoas sexualmente ativas e ainda aquelas que têm algum dos restantes comportamentos de risco pelo menos uma vez na vida.
É realista pensar no fim da SIDA no mundo?
A ONUSIDA está a trabalhar no sentido de eliminar o VIH/SIDA como ameaça de saúde pública a larga escala até 2030, embora isso não signifique necessariamente que consigamos eliminar a transmissão por completo.
Em que ponto está a implementação do Projeto Fast Track Cities em Portugal? O que pode ser feito para melhorar ou acelerar a sua implementação?
No dia 29 de maio de 2017 foi formalizada a adesão ao projeto Fast Track Cities pelas cidades de Lisboa, Porto e Cascais, através da assinatura da declaração de Paris pelos Presidentes dsa Câmaras Municipais destas cidades.
O despacho n.º 5216/2017 criou um grupo de trabalho multidisciplinar liderado pelo Professor Kamal Mansinho, cujo objetivo era definir uma estratégia integrada para a eliminação do VIH/SIDA e definir o posterior alargamento a outras cidades.
O grupo de trabalho produziu um documento público no qual é feita uma reflexão sobre as barreiras que ainda existem em Portugal para a eliminação do VIH/SIDA e as estratégias que podem ser implementadas para esse fim. Neste momento as cidades de Lisboa, Porto e Cascais estão a trabalhar com os parceiros relevantes no sentido de adaptar e implementar as recomendações do projeto.
Sofia Ribeiro é médica e tem mestrado em Saúde Pública pela London School of Hygiene and Tropical Medicine. É atualmente consultora do GAT para a iniciativa Fast Track Cities em Lisboa. O projeto foi lançado no Dia Mundial da SIDA em Paris, em 2014. Pretende, em todo o mundo, envolver a governação local, as instituições de saúde, e as instituições da sociedade civil. O objetivo é eliminar de uma forma local o VIH e criar uma rede integrada de cuidados que envolva as várias instituições.
Comentários