“A grande mensagem é esta: de facto, não há perigo da alimentação sob o ponto de vista da carne, a carne é importante porque nos traz proteína animal, ferro, zinco e vitamina B12. O que é importante é ter uma moderação de consumo e uma alimentação diversificada”, afirmou Nuno Vieira e Brito.

Esta declaração aos jornalistas foi feita após uma reunião extraordinária, hoje em Lisboa, da Comissão de Segurança Alimentar, que esteve a analisar o estudo divulgado na quarta-feira pela Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro, que revelou que a carne processada é cancerígena para os seres humanos e classificou a carne vermelha como provavelmente cancerígena.

“A classificação [da IARC] quer da carne processada quer da carne vermelha implica necessariamente que exista um olhar atento aos hábitos de consumo dos portugueses, que têm sido já acompanhados nos últimos anos”, declarou Vieira e Brito, recordando que os próprios consumidores têm vindo a reduzir o consumo de carne vermelha e aumentando o de carne branca (como aves).

Segundo o responsável do Ministério da Agricultura, a ideia-chave dos consumidores deve ser a da diversidade alimentar e a do equilíbrio nutricional.

Sobre a forma como o setor português da carne encara as consequências deste estudo, Vieira e Brito disse que os produtores dão a indicação de que os consumidores perceberam as conclusões do organismo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e não houve, até ao momento, “grandes alterações de práticas de consumo”.

Portugueses estão a comer menos carne vermelha

“Até porque os consumidores já conheciam parte destes estudos [na origem do da OMS] e já têm feito uma redução ou moderação de carne vermelha, menos 10% de 2008 a 2014”, afirmou.

O diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas, também presente na reunião extraordinária, considerou que as recomendações que a Direção-geral da Saúde (DGS) tem feito sobre alimentação saudável já estão alinhadas com as conclusões deste estudo da OMS.

Em relação à carne vermelha, o que se sugere é uma meta abaixo dos 500 gramas por semana por cada português, um nível considerado “muito seguro”.

Segundo o diretor do Programa da DGS, Nuno Miranda, o trabalho apresentado pelo organismo da OMS veio mostrar colocar as carnes processadas na lista dos alimentos “reconhecidamente cancerígenos”, enquanto as carnes vermelhas passaram dos possivelmente para os “provavelmente cancerígenos”.

Contudo, no que respeita às carnes processadas, só acima dos 50 gramas por dia, todos os dias, é considerado um nível não seguro.

“São consumos relativamente altos e não muito frequentes no nosso país”, explicou Nuno Miranda aos jornalistas, indicando que o consumo médio em Portugal andará nos 25 gramas por dia de carne processada, metade do valor referido.

O responsável lembrou ainda que a carne processada surge, por exemplo, colocada no mesmo grupo da luz solar: “sabemos que tem um risco aumentado de cancro da pele em determinado nível mas não vamos deixar de nos expor a luz solar”.

Em relação às carnes vermelhas, o risco cancerígeno é tido como provável, uma vez que os estudos não conseguem separar o risco da ingestão da carne de outros fatores.

“Devemos ter um consumo moderado e uma alimentação diversificada”, insistiu.

O consumo de carne de vaca e de porco tem vindo a diminuir em Portugal desde 2008, enquanto a carne de aves tem conquistado maior lugar na alimentação.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2008, a carne bovina tinha um peso no consumo de 19,6 quilos por habitante, baixando para 16,7 em 2012.