“Já tratamos dois carcinomas da tiroide e duas lesões de significado indeterminado [lesões que a biópsia não consegue dizer com certeza se é uma lesão maligna ou não] e nesses casos o tratamento habitual é a cirurgia, mas há doentes que recusam ou que não têm condições cirúrgicas, daí o benefício desta técnica”, descreveu Teresa Dionísio, médica radiologista de intervenção do CHVNG/E.

Em declarações à agência Lusa, nas vésperas do Dia Mundial da Tiroide que se assinala quinta-feira, a médica descreveu o percurso deste centro hospitalar que foi “pioneiro” ao implementar uma técnica que é ainda pouco usada em Portugal e que foi importada do Oriente.

Em causa está um procedimento não cirúrgico com o nome termoablação da tiroide.

Teresa Dionísio descreveu que “é colocada uma antena [nome técnico que na prática consiste numa agulha] dentro de uma lesão que está ligada a um gerador que vai provocar um aumento da temperatura que faz com que o nódulo seja destruído”.

“Trata-se de uma técnica não cirúrgica para a destruição de nódulos na tiroide. É uma técnica usada há anos em órgãos como fígado, pulmão, rim, osso, e, recentemente, surgiram antenas com dimensões menores que nos permitem tratar com mais destreza um compartimento sensível como é o pescoço”, descreveu.

O CHVNG/E faz termoablação por micro-ondas de nódulos da tiroide desde junho de 2021, tendo já tratado 85 nódulos, dos quais, dois carcinomas papilares (BethesdaVI), duas lesões foliculares de significado indeterminado (Besthesda III) e 81 nódulos benignos (Bethesda II).

Os pacientes que beneficiaram desta “técnica inovadora” têm idades compreendidas entre os 14 e os 84 anos.

Dados remetidos à Lusa por este centro hospitalar apontam que o CHVNG/E tem 26 doentes com ‘follow up’ completo, ou seja acompanhados há 12 meses.

Segundo Teresa Dionísio esta técnica revela-se “importante no tratamento de situações particulares em que o doente não tem indicação para cirurgia”.

A título de exemplo a médica contou que um dos pacientes que apresentava patologia maligna, tinha também outro cancro, um carcinoma do pulmão, estando a fazer quimioterapia, logo sem indicação para ser operado à tiroide apesar de ter uma doença maligna na tiroide.

“Um ano depois, feito o ‘follow up’, constatamos que continua livre da doença da tiroide”, completou.

São também “candidatos” ao recurso a esta técnica, doentes com outras doenças do foro cardíaco ou respiratório e não têm condições para anestesia geral.

“Esta técnica como é só de anestesia local, é uma ótima alternativa para vários doentes”, acrescentou a médica radiologista de intervenção do CHVNG/E, lembrando os casos de doentes que recusam ser operados ou que, pela idade já avançada, se acredita que não beneficiariam de uma cirurgia.

“Esta técnica ainda é muito pouco utilizada em Portugal, mas já é utilizada com frequência em outros países. A dificuldade é começar e conseguir provar que é seguro. Muitas vezes sabemos que há relutância de colegas de enviar os doentes para uma técnica nova. Mas [em Gaia] conseguimos dar esses primeiros passos há quase dois anos. Temos a garantia de que a técnica é segura e eficaz e temos notado que, à medida que o tempo avança, recebemos cada vez mais doentes enviados por endocrinologistas, cirurgiões e médicos de família”, concluiu.