Os prémios são atribuídos nas categorias de investigação básica e investigação clínica, no montante de 7.500 euros cada. Adicionalmente, foi concedida uma menção honrosa. As distinções serão entregues a 01 de julho, numa cerimónia em Lisboa.

A equipa do investigador Helder Cruz, da Universidade do Porto e do Instituto de Biologia Molecular e Celular, foi distinguida com o prémio de investigação básica, pelo estudo da dor crónica em ligação com défices de memória, aprendizagem e atenção, enquanto o grupo do cientista Miguel Castanho, da Universidade de Lisboa e da Universidade do Porto, com o prémio de investigação clínica, pelo trabalho sobre a dor crónica e a doença de Alzheimer.

A menção honrosa, na vertente de investigação clínica, premiou o estudo, com base num inquérito à população, sobre o impacto da lombalgia crónica (dor há três ou mais meses nas costas) no dia-a-dia e o consumo de medicamentos, da autoria de Nélia Gouveia, investigadora da Universidade Nova de Lisboa.

Helder Cruz explicou à Lusa que a sua equipa pretendeu, numa experiência com ratinhos, aferir de que forma um neurotransmissor do cérebro, a dopamina, que influi na aprendizagem, na atenção e na memória de curto prazo, é afetado pela dor crónica.

"Olhámos para uma zona do cérebro responsável pela codificação da memória de curto prazo, o hipocampo, e fomos ver de que forma os circuitos [neuronais] estavam alterados num ratinho com dor crónica", por comparação com um ratinho sem dor.

Ao ativarem recetores para a dopamina, D2 e D3, os investigadores verificaram que os ratinhos com maior dificuldade em memorizar o trajeto para chegarem à comida, porque sofriam de dor crónica, melhoraram o seu desempenho, e o funcionamento dos circuitos neuronais, para patamares semelhantes aos dos ratinhos sem dor crónica.

Para Helder Cruz, os resultados da pesquisa revelam que os tratamentos usados em doentes com dor crónica devem ter "em atenção os problemas de memória, aprendizagem e de decisão".

A ideia é "tentar melhorar a qualidade de vida dos doentes com dor crónica, [neste caso] não é o alívio direto da dor, mas a compensação das perdas e dos défices que estão associados à prevalência de uma condição de dor crónica", assinalou.

De futuro, a equipa propõe-se avaliar que perturbações cognitivas, decorrentes da dor crónica, podem ocorrer noutras regiões do cérebro.

O trabalho do grupo de investigação de Miguel Castanho debruçou-se sobre o papel de uma molécula analgésica, a quiotorfina, existente no sistema nervoso central, que "pode ajudar o médico a avaliar o grau de sensibilidade à dor" no doente de Alzheimer, numa análise clínica.

O cientista lembrou à Lusa que nem doentes nem cuidadores e familiares conseguem descrever com rigor a dor sentida, impedindo o seu controlo com eficácia.

"Tipicamente, a dor reportada [pelo doente] ou avaliada pelos familiares é inferior à sensibilidade real", afirmou, acrescentando que as pessoas com Alzheimer "podem estar a ser subtratadas para a dor".