Esse fenómeno natural permite ao organismo infetado integrar o vírus da Sida no ADN, neutralizando-o.
Os dois pacientes em questão estavam infetados com o VIH sem nunca terem estado doentes, nem terem uma quantidade detetável de vírus no sangue, segundo os autores do estudo, cujos resultados estão detalhados na revista especializada Clinical Microbiology and Infection. Nenhum deles foi submetido a tratamentos com antirretrovirais.
"Esta observação é muito interessante e pode representar um caminho para a cura", explicou à agência France Presse Didier Raoult, professor da Faculdade de Medicina de Marselha, em França, co-autor do estudo em conjunto com outra equipa francesa liderada pelo professor Yves Levy.
A análise realizada graças a tecnologias modernas permitiu reconstituir o vírus encontrado no genoma dos pacientes.
Os investigadores conseguiram provar que o vírus foi inativado por um sistema de interrupção da informação fornecido pelos genes do vírus. O sistema, denominado "codon-stop", marca o fim da tradução de um gene em proteína. O vírus torna-se incapaz de se multiplicar, mas permanece presente no ADN dos pacientes.
Estas interrupções devem-se a uma enzima conhecida, o Apobec, que faz parte do arsenal disponível nos seres humanos para combater os vírus, mas que normalmente é desativada por uma proteína do vírus da Sida.
O trabalho abre perspetivas de cura através da utilização ou da estimulação desta enzima e também da possibilidade de deteção nos pacientes recém-infetados, que têm hipóteses de cura espontânea, segundo os autores do estudo.
Para Raoult, isto poderia conduzir a uma revisão da definição de cura, que atualmente está baseada na ideia de desaparecimento do vírus no organismo.
A infeção pelo VIH de um dos pacientes ocorreu há mais de 30 anos. Aos 57 anos, está é agora imune ao vírus.
A seropositividade do segundo paciente, um chileno de 23 anos, foi identificada em 2011, tendo sido infetado três anos antes.
Nenhum deles apresentava outros fatores de resistência ao VIH conhecidos (mutações na proteína CCR5, que permite ao HIV infetar as células).
O estudo baseia-se na suposição de que o vírus da Sida - um retrovírus que se integra no DNA humano - teria o mesmo destino que centenas de retrovírus já integrados no DNA de mamíferos, incluindo seres humanos.
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