De acordo com a FAO, embora o impacto global e a longo prazo da pandemia na segurança alimentar ainda não seja conhecido, há evidências crescentes de que, nos países já atingidos por fome severa, as pessoas enfrentam cada vez mais dificuldades para ter acesso a comida suficiente numa altura em que os rendimentos estão a diminuir e os preços dos alimentos a aumentar.
“Não podemos esperar até acabarmos de lidar com os impactos na saúde para nos virarmos para a segurança alimentar. Se não começarmos agora o apoio aos meios de subsistência, vamos enfrentar múltiplas crises alimentares e uma fatura muitas vezes maior”, alertou hoje o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, numa reunião para analisar a resposta humanitária desta agência das Nações Unidas à COVID-19.
A FAO recorda que se os agricultores não tiverem acesso aos campos ou não conseguirem comprar sementes ou alimento para os animais, isso terá um grande impacto na época de colheitas, diminuindo significativamente o cultivo e consequentemente a disponibilidade de alimentos.
“Cada vez mais, os líderes mundiais sublinham que a pandemia pode custar mais vidas de pessoas com fome do que de pessoas realmente infetadas pelo vírus. O pior cenário possível não é um dado adquirido, mas temos de agir rapidamente e à escala global”, afirmou, por seu lado, Dominique Burgeon, diretor dos programas de emergência da organização.
Por isso, a FAO estima agora necessidades de financiamento para os seus programas de 350 milhões de dólares (cerca de 320 milhões de euros), três vezes mais do que a estimativa apresentada em finais de março.
Globalmente, a ação da FAO irá centrar-se na melhoria dos dados sobre a fome para promover uma resposta mais eficaz, manter a produção alimentar, reforçar o apoio a atividades de pós-produção, como a colheita, armazenagem, transformação e conservação de alimentos em pequena escala e ligar os produtores aos mercados para garantir que as cadeias de abastecimento alimentar se mantenham funcionais.
Entre os países com risco crescente de fome ou fome severa, a FAO destaca o caso da Somália, que está a sofrer o impacto simultâneo de vários choques, incluindo pragas de gafanhotos do deserto, inundações e COVID-19.
A Unidade de Segurança Alimentar e Análise Nutricional (FSNAU), gerida pela FAO, alertou em maio para o facto de cerca de 3,5 milhões de somalis poderem vir a sofrer de insegurança alimentar aguda até setembro, o triplo relativamente ao início de 2020, e muito pior do que em 2017, ano em que havia um elevado risco de fome.
Na África Oriental e no Médio Oriente há 42 milhões de pessoas em risco de grave insegurança alimentar, sendo que estas regiões enfrentam também um surto de gafanhotos que ameaçam destruir as colheitas.
Globalmente, antes da pandemia, cerca de 135 milhões de pessoas enfrentavam níveis de insegurança alimentar severa e 27 milhões de pessoas viviam à beira da fome.
Afeganistão, Bangladesh, Síria, Venezuela, México ou Equador são outros países no centro das preocupações da FAO.
Embora exista um elevado potencial para um aumento significativo da insegurança alimentar severa e da fome nos próximos meses, a FAO sublinha que tal não “é uma inevitabilidade”.
“Se apoiarmos agora os meios de subsistência, podemos ajudar a reduzir as necessidades, evitar o aumento da fome e proteger os mais vulneráveis contra os efeitos colaterais da pandemia”, afirmou Qu.
“Os doadores foram generosos e rápidos na resposta ao surto de gafanhotos do deserto durante os últimos meses. Precisamos desta generosidade contínua e desta defesa para evitar um aumento acentuado da fome severa”, acrescentou o diretor-geral da FAO.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de COVID-19 já provocou mais de 315.000 mortos e infetou mais de 4,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.
Em África, há 2.764 mortos confirmados, com mais de 84.500 infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
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