A investigação, hoje publicada na revista científica Development, foi feita por uma equipa de biólogos evolucionistas da Universidade de Howard (Washington, Estados Unidos), liderada por Rui Diogo, um investigador português.
Segundo os resultados da investigação, alguns dos músculos das mãos e pés que já não existem quando nasce a criança, mas que são visíveis nos fetos, como os ‘dorsometacarpales’ (entre o carpo e os dígitos), foram perdidos na evolução dos ancestrais adultos há mais de 250 milhões de anos, nas transições que levaram ao aparecimento dos mamíferos.
Os investigadores notam também que os 30 músculos que se formam na mão na sétima semana de gestação só 20 persistem como músculos individuais às 13 semanas e depois nos adultos, um decréscimo de um terço.
Tal facto, disse à Lusa o principal autor do estudo, Rui Diogo, espelha o que aconteceu na evolução do ser humano e “desconstrói mitos como o que na evolução e desenvolvimento há uma tendência para o progresso e complexidade, com mais estruturas a serem formadas”.
Rui Diogo diz que o estudo “apoia fortemente a Teoria da Evolução”, de Charles Darwin. Veja o Tweet de Rui Diogo:
Desde a Teoria da Evolução, no século XIX, que cientistas afirmam que a existência de estruturas anatómicas vestigiais (que perderam a função original) são um forte argumento para apoiar a ideia de que as espécies mudaram com o tempo, a partir de um ancestral comum. As avestruzes são um exemplo, por terem asas vestigiais.
Agora, graças a novas técnicas e à tecnologia 3D, que permite ter imagens de alta qualidade da anatomia interna de embriões e fetos humanos, a equipa descobriu que alguns músculos vestigiais dos membros humanos (presentes noutros animais e que foram sendo perdidos até à origem da espécie humana) afinal são formados transitoriamente durante as fases iniciais do desenvolvimento dos embriões.
Rui Diogo, nas declarações à Lusa, explica que esses músculos já foram necessários a outros animais, ancestrais do ser humano, e depois foram perdidos na evolução, antes do aparecimento dos primatas ou dentro da evolução dos primatas.
Continua no entanto por explicar por que razão ainda se desenvolvem nos fetos e depois desaparecem. Rui Diogo diz que essa é a “grande questão que divide os biólogos”. Para uns será uma espécie de “reserva” da evolução, para que possa haver reversões evolutivas se for necessário, e para outros são “constrangimentos na evolução”, porque não é fácil nem rápido “apagar completamente os resíduos da evolução”.
Nas palavras de Rui Diogo, investigador e professor na Faculdade de Medicina de Howard, autor de mais de uma centena de artigos em revistas como a Nature e autor ou coautor de mais de uma dúzia de livros, os músculos que já não existem no nascimento estão, no entanto, formados na sétima semana de gestação, quando um embrião humano tem cerca de 30 músculos na mão.
Rui Diogo diz também à Lusa que o trabalho mostra igualmente que esses músculos que se perdem no processo de desenvolvimento normal são os que estão usualmente presentes quando há “raras variações dentro da população comum”, como as pessoas com Síndrome de Dowm.
Segundo Rui Diogo a investigação vai continuar, através de imagens 3D, com outras partes do corpo, como a cabeça, e também com nervos, artérias e outras estruturas.
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