O projeto, contou o autor à agência Lusa, contou com a colaboração do Centro de Recursos para a Inclusão Digital da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria.

A apresentação da obra será realizada nas Grutas de Mira de Aire, em Porto de Mós, de "uma forma inclusiva", integrando "os normovisuais no mundo dos cegos com o objetivo da sensibilização", explicou.

O autor teve contacto com a cegueira "praticamente à nascença", pois tinha uma bisavó cega. Por isso, "escrever um livro que não os incluísse era o mesmo que estar a cozinhar para um grupo de amigos e não convidar quem realmente gosta de comer".

O autor ponderou criar um audiolivro, interpretado por si, mas desistiu da ideia assim que leu um depoimento de um cego, que o sensibilizou: "Quero ter a minha própria interpretação, quero andar à minha velocidade, poder voltar atrás, e quero tocar e sentir o cheiro do papel".

Decidiu que teria de criar uma versão, mas "cujo preço não excedesse o preço ao público".

"Sou um homem de pontes e não de barreiras. A inclusão sempre me preocupou. O mais importante é dar as mesmas oportunidades às pessoas, criando essas pontes. Faz-me confusão a escassez de livros em braille e o facto de serem muito caros", criticou.

Determinado a alcançar o seu objetivo, Ramiro Nolasco Rodrigues bateu à porta de várias associações ligadas à cegueira, mas percebeu que "não funcionam".

Depois de vários meses a procurar uma solução, descobriu o Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, do Instituto Politécnico de Leiria, onde encontrou a "resolução para o problema".

A coordenadora do CRID, Célia Sousa, aceitou o desafio de converter a obra em braille e imprimir dez exemplares, divididos em três volumes.

"Só para se ter uma ideia, cada livro demora uma hora a imprimir. O livro tem 297 páginas. Mas não se pode dar ordem de impressão. As folhas têm de ser colocadas à mão, uma a uma", revelou Ramiro Nolasco Rodrigues, que foi obrigado a transformar o formado do livro para A4 e a encaderná-lo em espiral, "porque é mais fácil de manusear".

O autor editou dez livros em braille para a apresentação e vai colocar no “site” do livro a versão braille para download gratuito, "para os que quiserem imprimir".

"Não colocámos sequer a hipótese de não resolver esta situação. Nós não fazemos produção de livros, mas sempre que alguém aqui chega com um projeto para tornar a leitura acessível ou para divulgar o que está a fazer, estamos sempre de portas abertas", disse Célia Sousa.

Esta é mais uma ação que "vai ao encontro da criação de livros multiformato", que o centro defende e que "permitem chegar a vários públicos".

Célia Sousa explicou que o problema inicial era o facto de o livro ser extenso. "Tivemos de pensar como operacionalizávamos e tornávamos o livro acessível às pessoas cegas. Só havia uma solução: transformar o livro em vários volumes".

A responsável considerou o projeto de Ramiro "interessante", ao qual "não podia dizer que não", até porque o CRID tem o "PLIP - Projeto de Leitura Inclusiva Partilhada".

Para Célia Sousa, "ter alguém que escreve e que quer fazer chegar o livro a cegos é extraordinário". Por isso, lançou o desafio de "fazer com que este livro chegue às pessoas com deficiência intelectual, com baixa literacia, adaptado em linguagem pictográfica".

"É um projeto que demorará algum tempo a fazer e que implica uma grande cumplicidade entre quem adapta e o autor, porque vamos mexer no texto. É um processo mais longo do que passar para braille", explicou a coordenadora do CRID, ouvindo um "sim" contundente de Ramiro Nolasco Rodrigues.

O CRID recebe pessoas com deficiência, dando-lhes apoio no uso das tecnologias e neste momento está a desenvolver um projeto ao nível da acessibilidade de museus e monumentos património da UNESCO com o objetivo de "tornar a cultura mais acessível.