Francisco Santos Coelho: consultor da nobox, médico especialista em Medicina Geral e Familiar; Presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACeS Tâmega II — Vale do Sousa Sul em 2023/2024
O percurso das equipas de trabalho, particularmente das equipas de saúde, é, muitas vezes, como dizemos na gíria, um caminho de pedras. E não, não vou agora dizer que “pedras no caminho? apanho-as todas, um dia vou construir um castelo”, — até porque os clichês já todos conhecemos! —, mas a verdade é que, se decidimos avançar por esse caminho, nalgum momento avistamos o ponto de chegada pretendido.
Um dos maiores desafios de trabalhar em equipa é o de não saber exatamente que percurso é esse. Apanhamos o comboio em andamento, atalhamos viagem e, só perante os primeiros percalços, nos questionamos acerca do que poderá estar a correr mal. E o curioso é que, raramente, o que achamos que está a correr mal é, efetivamente, aquilo que está a correr mal! Por norma, o que achamos que está a correr mal é só a ponta do iceberg daquilo que realmente está a correr mal. E isto não quer dizer que seja um iceberg impossível de ultrapassar — aliás, a boa notícia é que quase nunca é assim!
São vários os modelos já estudados para explicar as fases e as dores pelas quais passam as equipas de saúde. Todos eles, de grosso modo, mostram que há uma lógica no tal percurso e que, como noutros aspetos da nossa vida, saltar etapas pode representar uma perda de oportunidade de fazer melhor e de fortalecer laços. Dotar as equipas destas ferramentas de (auto)conhecimento é contribuir para as tornar numa espécie de “exércitos de combate”, estrategas bem alinhados, sem deixar de lado a humanidade e a interação, que contribuem inevitavelmente para que, de forma integrada, se alcancem melhores resultados.
No curso “Construção de Equipas Coesas”, que dinamizo na academia nobox, é precisamente por aqui que vamos: pela exploração deste percurso de construção de uma equipa em saúde e das várias nuances que o pautam. Como pedra basilar (esta sim, podemos e devemos apanhar para construir depois a nossa fortaleza) teremos o Team Performance Model, um modelo prático que, entre outras etapas, clarifica a importância de:
- Estabelecer um propósito que norteie o trabalho da equipa;
- Criar terreno comum e confiança para que as relações se fortaleçam numa boa rede de comunicação;
- Firmar objetivos inteligentes, que muralhem o caminho e permitam ver com clareza os resultados alcançados.
Com este modelo, comprovamos que, tanto nas equipas como nos icebergs, bem ao fundo do que se vê, existe muito para que se deve olhar com atenção — porque sem bons alicerces, nenhuma equipa se mantém saudável ao longo de todo o seu tempo de vida.
Apostar em saber mais sobre o percurso das equipas, as suas etapas, as dificuldades de cada uma delas e as estratégias para as superar de forma mais eficiente, está estudado, engrandece as capacidades dos trabalhadores e torna-os mais envolvidos com e na instituição em que se inserem.
Por isso mesmo, esta é uma oportunidade que deve ser agarrada. Até porque quem faz o que sempre fez, obtém os resultados que sempre obteve, e os tempos que vivemos desafiam-nos a fazer diferente e melhor — pela saúde das nossas equipas, dos nossos profissionais e dos nossos utentes!
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