“É um grito de revolta dos colegas da urgência”, que estão com uma “exaustão e cansaço brutal”, devido à “carência de enfermeiros”, afirmou o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins.

O dirigente sindical falava aos jornalistas junto à entrada principal do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), onde cerca de 50 enfermeiros se concentraram durante o período em que decorreu a greve.

Com uma faixa em que se podia ler “Enfermeiros em exaustão. Exigem uma solução e respeito pelos direitos”, os profissionais em protesto contaram com a solidariedade do deputado do PCP João Dias, que também é enfermeiro.

Nas declarações aos jornalistas, o presidente do SEP indicou que cada enfermeiro que exerce funções nos serviços de urgência do HESE “tem 50 a 60 horas extraordinárias por mês a mais no horário e cerca de 30 feriados e tolerâncias não gozadas”.

“Isto significa que os tempos de repouso e descanso são altamente insuficientes”, o que “coloca em questão a qualidade e a segurança dos cuidados prestados e dos próprios profissionais”, alertou.

Considerando que “há carência de enfermeiros em todo o hospital”, José Carlos Martins frisou que “há uma gritante falta” destes profissionais nos serviços de urgência geral e pediátrica.

“A situação caótica que existe é no serviço de urgência geral” do HESE, cuja “equipa é composta por 78 enfermeiros”, mas, “em bom rigor, deveria ter mais 20 a 25” profissionais, realçou.

O sindicalista defendeu que a solução para a falta de enfermeiros “só tem uma via, que é contratar mais, no plano imediato, e alocá-los ao serviço de urgência”.

“Naturalmente, serão jovens profissionais, que requerem tempo de integração para terem segurança clínica e decidir ajustadamente aos doentes. Portanto, são necessárias decisões políticas imediatas e urgentes”, acrescentou.

Além da exaustão e cansaço, estes enfermeiros reclamam do hospital de Évora o pagamento de mais de 12 mil horas extraordinárias, segundo o SEP, cuja delegação ia ainda hoje reunir-se com o HESE.

A trabalhar há mais de 30 anos nesta unidade hospitalar, a enfermeira Albertina Dias, que exerce funções na urgência geral, cumpriu as duas horas de greve e juntou-se ao protesto à entrada do edifício.

“Temos cada vez menos pessoas a trabalhar na urgência, abriram-se mais postos, mas os contratos de trabalho são precários e as pessoas não querem vir trabalhar para este hospital porque pagam-lhes mal”, afirmou à agência Lusa esta enfermeira.

Albertina Dias admitiu que, com a falta de pessoal, tanto os enfermeiros como os utentes “correm riscos”, indicando que estes profissionais têm que dar “apoio a mais do que um balcão” e que chega a haver “um enfermeiro para 30 doentes”.

“É muito difícil trabalhar num serviço de urgência, que é a porta de um hospital, nestas condições”, salientou, referindo que os “superiores hierárquicos têm conhecimento” da situação e que já foram feitos vários pedidos de escusa de responsabilidade.

Confirmando que os enfermeiros andam exaustos e que, mesmo assim, “é-lhes exigido que sigam os turnos quando falta alguém”, esta profissional disse temer que ninguém a defenda “se alguma coisa correr mal”.

“Não sei quem me vai defender se eu errar por cansaço”, acrescentou.

Esta greve foi decretada pelo SEP e abrangeu todos os enfermeiros do hospital de Évora.