Na base do protesto está a escassez de enfermeiros no Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais, hospital central especializado na área da reabilitação, no âmbito da rede de hospitais do Serviço Nacional de Saúde Português.

A situação afeta os diversos serviços deste hospital especializado no município de Cantanhede, distrito de Coimbra, nomeadamente na área dos cuidados continuados, internamentos e consultas, e prejudica os enfermeiros, que reclamam o pagamento de mais de dez mil horas de trabalho extraordinário.

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"A estrutural e crónica carência de enfermeiros com que o Centro Rovisco Pais se confronta, dá expressão, entre muitos outros problemas, ao aumento exponencial de horas extraordinárias que estes vão realizando, com o inevitável não gozo de alguns direitos, acarretando níveis de exaustão física e psicológica, com probabilidade de maior erro clínico e consequente diminuição da segurança e da qualidade dos cuidados prestados", explica Paulo Anacleto, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP).

Segundo este representante do SEP, que esteve presente numa concentração realizada hoje de manhã junto à portaria do hospital, na Tocha, a carência de enfermeiros pode colocar em risco a curto prazo a abertura de camas em alguns serviços, como é o caso do vertebro-medular.

Outra consequência da carência de enfermeiros é, segundo o sindicato, "o inaceitável não pagamento atempado de cerca de 10 mil horas em dívida, apenas em 4 serviços (perfazendo uma dívida de cerca de um mês a cada enfermeiro)".

Os enfermeiros e a administração do hospital, presidida por Vítor Lourenço, têm mantido aberto um canal de negociação, tendo acordado há pouco mais de um mês que, a partir de junho, serão pagos mensalmente a cada enfermeiro dez por cento das verbas em atraso. Esta situação não satisfaz, no entanto, o sindicato, que considera que o pagamento em prestações "será engolido" pela contínua necessidade de trabalho extraordinário.

A solução, diz o SEP, passa pela contratação de mais enfermeiros. Neste momento, trabalham no Rovisco Pais 70 enfermeiros, mas o sindicato garante que são precisos muito mais. Em 2017, chegou a ser negociado com o ministério da Saúde a contratação de mais 57 enfermeiros, mas a medida não teve luz verde das Finanças.

Para responder a situações urgentes de carência, o sindicato avançou com a possibilidade de contratar temporariamente profissionais em regime de prestação de serviços, mas a pretensão terá esbarrado, mais uma vez, na falta de autorização do Ministério das Finanças.

"A carência de enfermeiros é um problema estrutural no país que tem de ser resolvido rapidamente", apela Paulo Anacleto.

Os enfermeiros da Rovisco Pais entregaram ao Conselho de Administração do hospital um abaixo-assinado com as reivindicações e admitem regressar à greve se não houver resposta positiva.

Contactada pela Lusa, a administração do hospital reconheceu o direito dos enfermeiros a manifestarem-se, recusando fazer mais comentários.