O primeiro estudo do tipo, publicado no New England Journal of Medicine, aumenta a evidência de que o Ébola pode permanecer no corpo durante meses ou até anos.

As descobertas aumentam a preocupação com o estado de saúde dos sobreviventes da epidemia de Ébola que devasta a África ocidental desde 2013. Mais de 11.000 pessoas morreram, o pior surto desde que o vírus foi identificado pela primeira vez, em 1976.

Esta é a segunda semana consecutiva sem novos casos confirmados, segundo a Organização Mundial de Saúde.

"Estes resultados chegam num momento extremamente importante, lembrando-nos que embora o número de casos de Ébola continue a diminuir, os sobreviventes do Ébola e as suas famílias continuam a lutar contra os efeitos da doença", afirmou Bruce Aylward, representante especial da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o tema.

Campanhas pelo preservativo

"Este estudo fornece mais evidências de que os sobreviventes devem ser acompanhados de perto durante os próximos seis a 12 meses, de forma a enfrentar esses desafios e garantir que seus parceiros não estão expostos ao vírus".

Há mais de 8.000 homens sobreviventes de Ébola na Guiné, Serra Leoa e Libéria, e os especialistas iniciaram uma campanha para incentivar o uso do preservativo até que o sémen tenha sido testado positivo duas vezes.

Em março, investigadores publicaram um estudo que descreve o caso de uma mulher liberiana que foi supostamente infetada com o vírus Ébola após ter mantido relações sexuais com um sobrevivente do surto seis meses após a doença ter sido diagnosticada.

"Antes deste caso, o máximo de tempo que o vírus Ébola presente no sémen sobreviveu em isolamento foi 82 dias", comentou Armand Sprecher, especialista em Ébola da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).

O primeiro caso conhecido de transmissão sexual de um vírus da família do Ébola foi documentado em 1967, quando uma mulher foi infetada com o vírus Marburg após manter relações sexuais com o marido seis semanas após a sua recuperação, informou Sprecher.

Um total de 93 homens da Serra Leoa participaram no estudo para examinar as amostras de sémen e testar a presença de material genético do vírus Ébola. Todos os homens eram maiores de 18 anos e participaram no estudo após um período de dois a 10 meses depois da cura da infeção.

Todos os que foram testados nos primeiros três meses após a doença mostraram resultados positivos para o Ébola no sémen.

Quatro a seis meses após o diagnóstico, 65% foram testados positivos. Cerca de 26% dos testados deram positivo entre os sete e nove meses.

Ainda não está claro por que motivo alguns homens mantiveram resquícios do vírus Ébola e outros não. Os investigadores também não souberam esclarecer se estes resquícios significam que os homens ainda podem infetar os(as) seus(suas) parceiros(as).

As pessoas que sobrevivem ao Ébola são consideradas curadas quando o vírus deixa de ser detetado na corrente sanguínea, normalmente semanas após a infeção.