Com a cessação da atividade ovárica, na pós-menopausa verifica-se a “diminuição das principais hormonas que acompanham a fase reprodutiva da mulher, sendo a diminuição dos níveis de estrogénio a que mais consequência tem”, explica a especialista em Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Pedro Hispano, da ULS de Matosinhos.“Com essa diminuição existe uma atrofia e achatamento das camadas celulares da mucosa vaginal, resultando na dificuldade para manutenção do pH e flora ideais (redução de Lactobacillus). A normal lubrificação da mulher encontra-se comprometida”.

HealthNews (HN) – Na higiene íntima das mulheres, por que motivo é tão importante utilizar produtos que respeitem o pH natural e mantenham a hidratação?

Catarina Peixinho (CP) – Quando falamos de higiene íntima, especialmente a da mulher, diversos mitos e desconhecimento sobre o assunto ainda permanecem. Muitas mulheres preocupam-se com a higiene íntima no sentido que se sentem incomodadas com algum odor associado ao corrimento; contudo, na maioria das vezes, a higiene é efetuada de forma desadequada.

Sabemos que o pH da vulva e vagina é mais ácido que o pH da restante pele: o pH da vulva varia entre 3.7 – 4.5 e o da vagina varia consoante a fase reprodutora da mulher (menarca pH7 ; fase reprodutiva 3.8 – 4.4; menopausa pH6.5 – 7). O pH mais ácido resulta da produção de ácido láctico pelos lactobacilos (principal microrganismo da flora vaginal).

Cuidar da higiene íntima é tão importante quanto cuidar de qualquer outra parte do nosso corpo. Assim como lavamos as mãos e escovamos os dentes, a higiene íntima adequada também é importante, uma vez que somente a água não garante a limpeza da forma apropriada e que o corpo necessita, e a utilização de produtos inadequados altera o pH da pele e a flora vaginal, tendo como consequência o aparecimento de inflamações, tais como vulvovaginites.

HN – Na mulher adulta, que fatores podem provocar o desequilíbrio da flora vaginal?

CP – A composição da microbiota vaginal pode variar com base em vários fatores: níveis hormonais (pré-menarca, cataménio, gravidez, menopausa),

atividade sexual, consumo de drogas/fármacos, higiene íntima, pensos higiénicos, etnia (práticas de higiene?) e idade.

HN – É normal que as mulheres na idade da menopausa sintam mais secura na zona íntima?

CP – Na pós-menopausa, com a cessação da atividade ovárica, existe diminuição das principais hormonas que acompanham a fase reprodutiva da mulher, sendo a diminuição dos níveis de estrogénio a que mais consequência tem. Com essa diminuição existe uma atrofia e achatamento das camadas celulares da mucosa vaginal, resultando na dificuldade para manutenção do pH e flora ideais (redução de Lactobacillus). A normal lubrificação da mulher encontra-se comprometida. Dessa forma, corrimentos anormais e secura vaginal tornam-se mais frequentes nesta fase da vida da mulher.

HN – Que cuidados específicos são recomendados durante a perimenopausa, menopausa e pós-menopausa?

CP – Existem múltiplas recomendações que a Sociedade Portuguesa de Ginecologia expressa e que passo a citar: “a vulva, a região púbica, a região perianal e os sulcos crurais (raiz das coxas), deverão ser higienizados com água corrente e com produtos de higiene; não se recomenda a introdução de água e/ou outros produtos no interior da vagina (lavagens vaginais). Secar cuidadosamente as áreas lavadas com toalhas secas e limpas, que não agridam o epitélio da região”.

Os sabões transparentes (ex: sabonete de glicerina), “pelo seu excessivo conteúdo em glicerina, podem absorver água em excesso para fora da pele, causando potencialmente mais secura e irritação cutâneas”. Os produtos em barra “não são uma boa opção pois promovem secura e diminuição da acidez da pele vulvar e região adjacente. Os sabonetes alcalinos tornam as condições da região hostis à multiplicação dos lactobacilos”.

Os sabonetes líquidos íntimos “são produtos à base de ácido láctico e são os recomendados para a higiene intima. O seu principal atributo é manter o pH mais próximo do ideal para o desenvolvimento e manutenção das células da pele. São recomendados apenas para uso da genitália externa e não são indicados para fazer lavagens vaginais”.

Os banhos de assento “estarão indicados somente quando houver recomendação médica; não devem ser utilizados sprays, perfumes, talcos, ou lenços humedecidos”.

As peles secas “deverão ser hidratadas, assim como se faz nas demais áreas do corpo. Os hidratantes deverão ser gel ou cremes vaginais de base aquosa e com pH ácido e compatíveis com a mucosa vaginal”.

Não é recomendado o penso higiénico diário. Em contrapartida, recomenda-se “o uso de roupas que favoreçam a ventilação local”, “trocar as roupas íntimas diariamente” e “evitar roupas demasiado justas ou apertadas”.

Os fatos de banho molhados e o vestuário após o desporto “devem ser trocados o mais precocemente possível”.

No período pré-menstrual e menstrual, “a higiene deverá ser mais frequente, para aumentar a remoção mecânica dos resíduos e melhorar a ventilação genital, com consequente redução da humidade prolongada”.

Na pós-menopausa, “pela menor espessura do epitélio, recomenda-se lavar, no máximo, 2 vezes/dia usando produtos com pH próximo ao fisiológico (pH menos ácido) para evitar maior secura e prurido”.

Na infância, “tanto a falta, mas também os excessos, na frequência e fricção durante a higiene, podem trazer consequências desagradáveis. Deve ser feita a higiene diária com banho diário e após a defecação. Além dos sabonetes líquidos, é fundamental o cuidado em secar, cuidadosamente, a região anogenital”.