O estudo, promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP-NOVA), envolveu 412 pessoas com doença crónica, com idades entre os 18 e os 94 anos, sendo as doenças mais prevalentes a hipertensão arterial, a dislipidemia, a diabetes, a ansiedade e a depressão.
As conclusões do estudo apontam que “55% da população com doença crónica tem níveis inadequados de literacia em saúde” e que esta situação “pode ter impactos significativos na gestão da sua doença”, disse à agência Lusa Ana Rita Pedro, investigadora da ENSP-Nova e responsável pelo estudo “Literacia em saúde na doença crónica”.
“Contudo, quando comparamos com os resultados a nível nacional que obtivemos em 2016, verificamos que, ainda assim, esta população específica tem níveis de literacia em saúde superiores à população em geral, o que é bom”, afirmou a coordenadora do estudo desenvolvido no âmbito do projeto ‘Saúde que Conta”, uma iniciativa de investigação da ENSP-NOVA, com o apoio da Lilly Portugal.
Os resultados do estudo revelam também que um maior nível de literacia em saúde se reflete numa melhor adesão à terapêutica (78%), com os doentes a terem “uma maior perceção da necessidade de tomar a medicação”.
Apontam igualmente que “as pessoas com doença crónica e com um nível de literacia em saúde mais baixo utilizam mais vezes o serviço de urgência hospitalar, as consultas de medicina geral e familiar e a urgência do centro de saúde”.
Também tendem a ter mais doenças crónicas em simultâneo, sublinhou a investigadora, considerando que estas conclusões necessitavam de ser “melhor exploradas e trabalhadas num contexto político nacional”.
O estudo indica ainda que cerca de metade dos inquiridos afirmou não ter apoio em aspetos relacionados com a gestão da sua doença, no entanto, quem gere autonomamente a doença apresenta um nível de literacia em saúde mais elevado.
De acordo com o estudo, nove em cada 10 doentes crónicos não utilizam o SNS24. Ressalvando que esta conclusão “terá de ser melhor explorada no futuro”, Ana Rita Pedro apontou como possível explicação o facto ser uma população com características muito próprias: “são pessoas que vivenciam, experienciam, a sua doença e os desafios que dela advêm há muito tempo pelo que se calhar não reconhecem a utilidade do SNS24″.
As principais fontes de informação em saúde utilizadas pelos inquiridos são os profissionais de saúde (82,8%), seguindo-se os familiares e amigos (57,7%) e a televisão (55,1%).
Apenas cerca de dois em cada 10 doentes crónicos utiliza a Internet e, destes, apenas 25% procura informação através de plataformas governamentais.
“Os profissionais de saúde continuam a ser a fonte de informação preferencial, credível das pessoas com doença crónica pelo que, cada vez mais, se torna imperativo que estes estejam dotados das competências necessárias para saberem passar a mensagem, saberem ouvir e para saberem informar”, disse a investigadora, defendendo um “investimento nesta área estratégica” para “mudar o panorama da literacia em saúde em Portugal”.
Ana Rita Pedro considerou que já foi dado “um passo muito grande” em 2016 com a criação do Programa Nacional de Literacia em Saúde, mas defendeu que estes temas necessitam de “maturidade política”, de “mais pensamento” e da “criação de estratégias concretas” que envolvam os profissionais de saúde, os decisores políticos, os parceiros e os cidadãos.
Comentários