15 de março de 2013 - 14h34
O secretário de Estado da Saúde, Manuel Teixeira, disse esta sexta-feira no Porto que em dois anos o sistema de saúde português “reduziu a despesa de uma forma muito significativa, sem afetar a qualidade dos serviços prestados”.
Num workshop sobre “Gerir hospitais em época de crise”, Manuel Teixeira referiu que a redução da despesa se alcançou com medidas estruturais e medidas imediatas, nomeadamente ao nível da redução da despesa com medicamentos, da redução das horas extraordinárias, das compras de serviço e da diminuição dos casos nas urgências.
“Esta resposta foi no sentido de tentar acomodar a despesa à quebra de financiamento. Temos vindo a conseguir respeitando a restrição de que o acesso e a qualidade têm de ser mantidos”, afirmou.
Mais consultas e cirurgias
De acordo com o secretário de estado, “em 2012, as consultas médicas cresceram 2.2 por cento ou seja realizaram-se mais 104 mil consultas no sistema hospitalar e as cirurgias programadas aumentarem 3.9 por cento, o que corresponde a mais 20 mil cirurgias”.
“Isto leva-nos a dizer que, em grande medida, de facto conseguimos fazer um grande ajustamento da despesa, mas mantendo o que era essencial, ou seja, a prestação e a qualidade dessa prestação”, frisou.
Reconhecendo que as medidas até agora tomadas são “claramente insuficientes”, o secretário de Estado defendeu a necessidade de prosseguir com a “agenda profunda de reformas” caso contrário “não conseguimos resolver a prazo as questões que nos levaram à situação de hoje”.
Ou seja, disse, “é necessário debelar o fogo que tivemos de enfrentar, mas em simultâneo tratar da floresta de tal maneira que no futuro o fogo seja cada vez mais difícil de aparecer”.
Esta afirmação mereceu um comentário do diretor do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Manuel Antunes, que participou também como orador no mesmo encontro.
“Se a floresta for mais reordenada, haverá menos fogos, mas a verdade é que também quando, no limite, não houver floresta não haverá fogos nenhuns. No hospital, também quando não houver doentes provavelmente a gestão será muito mais fácil e não haverá subfinanciamento”, disse Manuel Antunes.
O cirurgião considerou que há “um problema grave em Portugal, a população portuguesa vê realmente os serviços de saúde cada vez mais longe e os sinais de que a coisas não estão tão bem como os membros do governo pretendem fazer crer são as notícias que vão saindo. Em dezembro, o Hospital de Santa Maria admitiu que só tinha dinheiro para pagar salários, luz e água”.
“E, outra coisa, a dívida do Serviço Nacional de Saúde duplicou em apenas três anos. Hoje calcula-se que seja quase metade do orçamento anual da saúde. Reconheço que desde há dois anos, este governo cortou muito na despesa, mas resta saber se, efetivamente, cortou ou apenas a escondeu”, disse.
E acrescentou: “Porque podemos durante algum tempo varrer o lixo para debaixo da carpete até ao momento em que ela começa a flutuar no lixo”.
“Em três anos descemos a despesa em dois mil milhões de euros, é o que eles dizem. Seja como for, e ainda que seja verdade e eu não acredito que seja verdade, é óbvio que nós não conseguimos em três anos adaptarmo-nos para com menos dois mil milhões darmos a mesma qualidade na saúde”, frisou.
Lusa