"Portugal é um dos países que mais prescreve psicofármacos, quando a prevenção da depressão é importante em todas as fases da vida, assumindo na adolescência um papel de maior relevo", disse o psicólogo Vítor Anjos, um dos coordenadores do seminário nacional "Depression: let's talk", que vai decorrer na sexta-feira, em Coimbra.

Segundo Vítor Anjos, Portugal é o país da Europa com a taxa de depressão mais elevada e "foca-se na medicação, quando é preciso perceber que a terapia e prevenção podem levar a um estado de saúde mental saudável".

O seminário "Depression: let's talk" destina-se a assinalar o Dia Mundial da Saúde, que este ano a Organização Mundial de Saúde dedicou à depressão, e é organizado em conjunto pela Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Coimbra, a Associação Portuguesa de Conversas em Psicologia e Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. "Juntámos sinergias, porque pensamos que a depressão pode ser trabalhada de outra forma", frisou Vítor Anjos, salientando que 20% da população é negligenciada na doença e que 70% dos suicídios são causados por depressão.

De acordo com o presidente da Associação Portuguesa Conversas em Psicologia, estima-se que "400 mil portugueses entre os 18 e os 65 anos sofrem anualmente um grau de depressão muito alto".

Em todo o mundo, mais de 300 milhões de pessoas vivem com depressão, a principal causa de problemas de saúde e de incapacidade laboral, segundo estimativas divulgadas na semana passada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A depressão aumentou mais de 18% entre a população mundial em dez anos, entre 2005 e 2015.

A depressão não escolhe idades nem extratos sociais e é uma doença que requer tratamento, daí a importância de procurar ajuda especializada o mais precocemente possível.

Portugal tem feito pouco na prevenção

Ana Paula Amaral, também da comissão organizadora do seminário que vai acontecer em Coimbra , considera que em Portugal "pouco se tem feito na prevenção", embora reconheça que existem programas eficazes.

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De acordo com a docente de psicologia clínica, o estigma associado à doença ainda constitui uma barreira importante ao diagnóstico atempado e prevenção.

"Se conseguirmos minimizar os fatores de risco e promover fatores de proteção conseguimos melhorar a doença na população", sublinhou Ana Paula Amaral, que defende também uma aposta maior na prevenção para combater o "normal foco no tratamento".

Durante o seminário, que terá dois painéis, serão abordados e divulgados vários programas que estão já no terreno e que visam a prevenção da depressão nos adolescentes, perinatal e do suicídio em cuidados primários.

Risco de doenças relacionadas

A depressão aumenta o risco de doenças cardíacas, da diabetes e do suicídio, sendo uma doença mental caracterizada por tristeza persistente e falta de interesse em atividades diárias. Normalmente, as pessoas com depressão têm ausência de energia, alterações no apetite, ansiedade, diminuição da concentração, inquietação, sentimentos de culpa ou desespero e pensamentos suicidas.

Tratamento

O diagnóstico de depressão é realizado com base na observação, queixas e história clínica do doente. A terapêutica pode incluir a psicoterapia e/ou a toma de fármacos (como os antidepressivos, entre outros). O tratamento é sempre individualizado e só o médico pode prescrever o fármaco mais adequado a cada caso. O apoio familiar e social é muito importante ao longo de todo o processo.