No seu discurso na sessão de abertura da I Convenção Internacional dos Enfermeiros, que hoje começou no Porto, Ana Rita Cavaco avisou que já acabou o tempo “em que os partidos mandavam” na Ordem.

“Tudo estaria hipocritamente calmo se nós tivéssemos vindo para não destapar feridas. Se não tivéssemos denunciado situações terceiro-mundistas em vários hospitais, se não nos tivéssemos indignado contra a exploração e ‘burnout’ dos enfermeiros. Tudo estaria calmo se tivéssemos vindo para silenciar e não abrir a porta da Ordem dos Enfermeiros”, afirmou a bastonária.

Para os próximos 40 anos, a bastonária entende que o desafio da enfermagem portuguesa é “resistir e sonhar”, sublinhando que não se deixará vencer pelo cansaço.

Ana Rita Cavaco critica a falta de visão do futuro de quem, em vez de liderar, “insiste em perseguir e utilizar poder para jogos de bastidores”.

“Enquanto isso, há gente que morre à espera de uma cirurgia, há dúvidas sobre as listas de espera e tratamentos fundamentais que são adiados por burocracias ou faltas de meios. Isto sim, é que deveria preocupar e merecer a atenção do poder político”, declarou.

No discurso, a bastonária nunca se referiu diretamente à sindicância à Ordem que foi determinada pela ministra da Saúde ou ao corte de relações institucionais que chegou a ocorrer com o Ministério. Contudo, Ana Rita Cavaco tem dito que considera que a sindicância representa uma perseguição.

“Há quem ache uma ousadia que uma ordem profissional se preocupe em defender, sem medos, a dignidade dos enfermeiros”, lamentou, discordando dos que acreditam que se pode prestar cuidados de saúde “sem cuidar de quem cuida”.

Repetindo a ideia de que foi eleita e ganhou as eleições para a Ordem, a bastonária afirmou ainda que não faz parte da “lista interminável de nomeações”: “Não precisei de ser filha, mulher ou sobrinha de ninguém (…) Esta é a minha única arma: ser livre e continuar livre”.

Antes do discurso da bastonária, a I Convenção Internacional dos Enfermeiros começou com um filme que apresentou uma família de enfermeiros: mãe, filha e neto.

Helena Macedo, enfermeira aposentada com 82 anos, relatou que no seu tempo a “enfermagem era respeitada” e era uma profissão onde havia “regalias”.

Já a filha, Inês Macedo, trabalha como enfermeira há 26 anos e destacou que ganha de ordenado “praticamente o mesmo” que o seu filho, João, que é enfermeiro há três anos.

A I Convenção Internacional dos Enfermeiros começou hoje no Porto e prolonga-se até sábado, dia em que a bastonária promete fazer um anúncio aos enfermeiros, segundo disse hoje no seu discurso.