Como se pode definir a epilepsia em idade pediátrica?
A Epilepsia é uma doença neurológica crónica caracterizada pela existência de crises epiléticas recorrentes, não provocadas. As crises epiléticas traduzem uma descarga elétrica anormal e excessiva no nosso cérebro, manifestando-se com alterações clínicas. A idade pediátrica, sobretudo os primeiros anos de vida, apresenta uma incidência maior desta doença.
Quais são as principais manifestações da doença?
As manifestações da epilepsia são variáveis e dependem da região do cérebro afetada. Como referido anteriormente, as crises epiléticas resultam de descargas elétricas anormais numa determinada região do cérebro, causando alterações clínicas que podem incluir perda de consciência (ex. ausências), manifestações motoras (ex. movimentos repetitivos, automatismos) e não motoras (ex. sintomas sensitivos). No entanto, a epilepsia não se resume apenas às crises epiléticas. Entre as crises, também podem ocorrer alterações em várias esferas, como cognitivas, comportamentais, psicológicas e sociais.
Quais podem ser os fatores desencadeantes da epilepsia nesta idade?
Existem várias causas de epilepsia, que são classificadas em seis grandes grupos de acordo com a Liga Internacional Contra a Epilepsia: causa estrutural (ex. tumores cerebrais, malformações cerebrais, traumatismos cranianos); causa genética (ex. síndrome de Dravet); causa infeciosa (ex. meningoencefalite); causa metabólica (ex. epilepsia dependente de piridoxina); causa imunológica (ex. síndrome de Rasmussen); e causa desconhecida.
Em idade pediátrica, as causas mais comuns são as genéticas, que podem ser hereditárias (quando existem familiares também com epilepsia) ou alterações de novo; as epilepsias estruturais, quando há alguma alteração morfológica no cérebro da criança causadora de epilepsia; e as epilepsias infeciosas que surgem após infeções cerebrais como a meningite e a encefalite.
Como é feito o diagnóstico de epilepsia em idade pediátrica?
O diagnóstico da epilepsia é clínico, com o apoio de exames complementares de diagnóstico, como o electroencefalograma (EEG). É essencial obter uma história clínica detalhada. É necessário verificar se há crises epiléticas recorrentes e não provocadas, descrever as suas características e fatores desencadeantes, além de identificar fatores de risco para epilepsia (intercorrências na gravidez e parto, traumatismos cranioencefálicos, infeções do sistema nervoso, história familiar de epilepsia). Relativamente aos exames complementares de diagnóstico, a realização de um EEG e de um exame de imagem cerebral (ex. ressonância magnética) são pontos decisivos no diagnóstico, a fim de classificar o tipo de crises, o tipo de epilepsia e principalmente identificar a sua causa.
Qual é o tratamento para a epilepsia em idade pediátrica?
Existem várias opções de tratamento para a epilepsia em idade pediátrica. O melhor tratamento será sempre aquele que se adequar especificamente a cada criança, tendo em conta o tipo de epilepsia, a frequência das crises epiléticas, as patologias associadas, entre outros fatores. Existem diversos medicamentos anticrises epiléticas com um bom perfil de segurança, e que podem ser escolhidos de acordo com o tipo de crise epilética e epilepsia. Uma parte significativa das epilepsias da infância são autolimitadas, não necessitando de medicação diária e resolvendo-se antes da idade adulta. No entanto, as epilepsias refratárias e as encefalopatias epiléticas associadas a deficiência intelectual ou perturbações motoras, como a paralisia cerebral, tendem a persistir na idade adulta. Nestes casos, pode não haver cura, mas a criança pode apresentar períodos de melhoria no controlo das crises.
Nas epilepsias refratárias, ou seja, que não respondem a dois ou mais medicamentos anticrises epiléticas, pode recorrer-se a outros tratamentos para além da medicação: cirurgia da epilepsia; estimulação do nervo vago, dieta cetogénica e canábis medicinal.
A epilepsia na infância tem cura?
Podemos falar em cura de epilepsia quando a criança está há 5 anos sem crises e sem medicação ou se já ultrapassou a idade do síndrome epilético previamente diagnosticado.
Felizmente, uma parte importante das epilepsias da infância são autolimitadas, não necessitando de medicação diária e resolvendo-se antes da idade adulta.
No entanto, cerca de 30% das epilepsias em idade pediátrica são refratárias ao tratamento e nestas a cura é menos provável podendo, no entanto, haver períodos de controlo das crises sob medicação.
Como lidar com uma criança que tem epilepsia?
O aspeto mais dramático da epilepsia é a imprevisibilidade das crises epiléticas. Isso implica que a criança ou jovem e a sua família estejam constantemente em alerta, pelo menos até se sentirem seguros com a medicação. Em caso de convulsão devem saber usar a medicação SOS. Os cuidados a ter também em casa, escola e desporto, dependem do tipo de epilepsia e por consequência, do tipo de crises epiléticas. As crises com queda brusca ao chão ou convulsões requerem uma alteração do ambiente em termos de segurança diferente daquela necessária para crianças com crises de ausências, em que apenas ocorre uma interrupção breve da consciência. Nas crianças com crises durante a noite, o medo dos pais de não detetarem uma crise durante o sono leva-os a colocar a criança a dormir na cama dos pais, o que não é recomendado.
A epilepsia em idade pediátrica pode afetar o desenvolvimento da criança?
As crianças e jovens com epilepsia apresentam mais frequentemente dificuldades de aprendizagem, alterações do comportamento, perturbação de hiperatividade e défice de atenção, autismo e patologia psiquiátrica. É necessário fazer acompanhamento multidisciplinar com médico neuropediatra, psicólogo, terapeuta da fala, terapeuta ocupacional e professor do ensino especial de forma a ser efetuada avaliação do desenvolvimento cognitivo-motor, do comportamento, assim como a identificação de dificuldades escolares. O objetivo é possibilitar adequado tratamento da epilepsia e problemas associados, atempado apoio técnico-pedagógico e melhorar a integração da criança na escola e na comunidade.
Quais são as precauções que devem ser tomadas para evitar crises epiléticas em crianças?
As epilepsias de causa genética dificilmente são evitáveis; no entanto, podem e devem ser identificadas e tratadas de forma precoce e adequada. As epilepsias infeciosas podem ser prevenidas pelo cumprimento do programa nacional de vacinação e pela procura atempada de cuidados médicos em caso de suspeita de infeção cerebral.
Como é que as escolas podem lidar com uma criança que tem epilepsia?
Muitas vezes, essas crianças e jovens necessitam de apoio individualizado, terapias e psicologia escolar.
No entanto, o que mais impacta a integração na escola é a possibilidade de ocorrência de uma crise epilética em contexto escolar. Por isso, é fundamental fornecer formação aos professores e auxiliares de ação educativa sobre como agir em caso de crise epilética. Para tal, a Liga Portuguesa Contra a Epilepsia (LPCE) disponibiliza ações de formação para a comunidade educativa.
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