"Em geral, as crianças são infetadas na família, geralmente através dos seus pais, mas depois transmitem-na pouco na escola", explica o principal autor do estudo, Arnaud Fontanet.

O estudo corrobora outros trabalhos semelhantes, embora os seus resultados sejam preliminares e ainda não tenham sido publicados em periódico especializado, prova da sua validação científica, enfatiza Pasteur.

Foi realizado em seis escolas do ensino básico em Crépy-en-Valois (norte da França), uma comunidade duramente afetada pela epidemia entre fevereiro e março. Um total de 1.340 pessoas foram submetidas a testes de deteção de anticorpos, incluindo 510 crianças, e os demais adultos, entre professores e familiares.

Os investigadores identificaram três crianças infetadas com o novo coronavírus antes que as suas escolas fossem fechadas no âmbito do confinamento para conter a pandemia. Nenhuma delas infetou qualquer pessoa na escola durante as três semanas de exposição.

Embora seja um período relativamente curto para tirar conclusões definitivas, os dados "são outro grão de areia" que contribuem para estudos semelhantes no mundo, segundo Fontanet.

Num primeiro momento, a COVID-19 foi considerada altamente contagiosa em crianças, como o vírus da gripe. Outros estudos iniciais também mostraram que as crianças têm uma carga viral de SARS-CoV-2 tão alta como os adultos, sugerindo assim que infetavam da mesma forma.

"Que eu saiba, nunca houve um surto (de COVID-19) iniciado em uma escola", continua Fontanet, membro do conselho científico que aconselha o governo francês sobre o novo coronavírus.

Com a desaceleração da epidemia na Europa, alguns países começaram a reabrir escolas. Em França, todas as crianças foram autorizadas a retornar as aulas a partir de segunda-feira, após um período de transição em que apenas uma pequena percentagem de alunos foi aceite.

"O risco de que a epidemia reapareça a partir de uma escola ou que um professor seja infetado por estudantes com menos de 10 anos de idade parece muito pequeno para mim".

Por outro lado, para estudantes de escolas de ensino secundário com 16 a 18 anos, "tenho as minhas reservas", disse Fontanet.

Um estudo anterior, igualmente liderado por Fontanet, mostrou como a epidemia explodiu em um instituto também em Crépy-en-Valois.

Entre as 1.340 pessoas analisadas nas escolas do ensino básico, 139 (81 adultos e 58 crianças) foram infetadas em algum momento pelo novo coronavírus. Entre os pequenos, isso representa 8,8%.

Um total de 61% dos pais de crianças infetadas também contraíram o vírus, em comparação com 6,9% dos pais de crianças não infetadas.

Os investigadores concluem que os pais geralmente infetam crianças e não vice-versa. Os professores saíram quase incólumes: apenas 3 em 42 (7%) foram infetados.

Finalmente, mais de 41% das crianças infetadas (24 de 58) não apresentaram sintomas (em comparação com apenas 9,9% entre os adultos). "Isso confirma o que já sabemos: as crianças desenvolvem formas leves da doença", lembra Fontanet.