Portugal está a terminar 2021 como começou: uma vaga de casos que já levou a mais medidas para conter o crescimento de infeções e com a ameaça de uma nova variante, apesar das dúvidas se causa formas de COVID-19 mais graves e se diminui a eficácia das vacinas.
Se em janeiro de 2021 a ameaça era a variante Alpha, associada ao Reino Unido, agora a preocupação está na Ómicron, detetada em dezenas de países depois de ter sido reportada na África Austral.
Pelo meio, Portugal enfrentou a variante Delta, associada à Índia, considerada 60% mais transmissível do que o vírus original, e responsável pela totalidade das infeções no país e que em 2021 ganhou terreno a todas as outras na Europa e no mundo.
Mas 2021 fica também marcado pela maior onda desde o início da pandemia, logo nos dois primeiros meses do ano, com Portugal a ultrapassar, no final de janeiro, 300 mortes diárias e 16 mil casos.
Ainda com a vacinação em fase de arranque, a pressão sobre os hospitais foi subindo desde o início do ano, o que a maioria dos especialistas atribuiu ao alívio de restrições no período de Natal, culminando com um pico de mais de 6.600 internados e de 850 doentes em cuidados intensivos no final de janeiro.
Face ao pior momento da pandemia, o Governo aumentou a despesa do Serviço Nacional de Saúde, que cresceu 10% nos primeiros dois meses do ano, atingindo 1.876 milhões de euros, mas nem este esforço evitou, por exemplo, que o hospital da Santa Maria, em Lisboa, entrasse em “sobre-esforço” e o hospital Garcia de Orta, em Almada, ficasse num “cenário de pré-catástrofe”.
Em meados de janeiro, Portugal chegou a ser o país do mundo com maior número de novos casos por milhão de habitantes, que levou, por exemplo, a que cerca de um mês depois aterrasse em Lisboa uma equipa clínica alemã de 26 profissionais para ajudar a conter a pandemia.
O confinamento para controlar esta onda sem precedentes refletiu-se numa primavera mais tranquila, com o número de casos a baixar consideravelmente, uma situação que voltou a inverter-se no início do verão, tendo o Governo ordenado a suspensão do plano de desconfinamento que estava a ser implementado, uma vez que o país se encontrava na zona vermelha da matriz de risco.
No verão, altura de grande mobilidade, o país voltou a ultrapassar os milhares de infeções diárias, atingindo o pico em 21 de julho, com 4.376 casos, e perto dos mil internados e cerca de 200 doentes em cuidados intensivos no final desse mês, números, porém, bastante inferiores aos do início de 2021.
Com o país ainda em estado de calamidade, o Governo avançou depois com um novo plano de desconfinamento que entrou em vigor em 01 de agosto, quando 57% da população já tinham a vacinação completa.
A última etapa deste plano entrou em vigor em 01 de outubro, a poucos dias de Portugal atingir a meta de 85% da vacinação completa, o que colocou o país entre os primeiros lugares do mundo com maior percentagem de pessoas imunizadas, e permitindo o alívio quase total das restrições para controlar a pandemia.
Este sucesso teve como figura central Henrique Gouveia e Melo, um submarinista vice-almirante da Armada, que, em 03 de fevereiro, assumiu a liderança da ‘task force’ que já integrava, na sequência da demissão do coordenador Francisco Ramos, e numa altura em que o plano estava ensombrado por casos de vacinação indevida, e que Portugal tinha poucas vacinas e apenas 2% da população imunizada.
Portugal aproxima-se do final do ano com um crescimento de infeções e de internados, mas estão agora nos hospitais menos cerca de 80% de doentes com COVID-19 do que no final de janeiro.
A generalidade dos especialistas atribuiu esta menor pressão à elevada taxa de vacinação num país que entretanto alcançou quase 90% da sua população totalmente vacinada, avançando também para a dose de reforço da imunização dos idosos e de crianças dos 5 aos 11 anos.
Comentários