“Embora os dados até agora conseguidos obter relativamente ao efeito do vírus sobre a gravidez tenham sido positivos no sentido de nenhum caso de malformações ou de infeção fetal parece ter acontecido”, a SPMR decidiu emitir um comunicado a alertar os diretores dos centros de que a situação de emergência “impõe também alguma prudência” na forma como estão a orientar os seus casos, disse hoje à agência Lusa o seu presidente.

O que a SPMR propôs foi “terminar os tratamentos que estavam em curso e após a fecundação dos ovócitos não fazer transferência de embriões”, adiantou Pedro Xavier.

Segundo o especialista, devem ser congelados todos os embriões obtidos dos tratamentos que estivessem em curso e que apenas se realizem os tratamentos de fertilização ‘in vitro’ que implicam a obtenção de embriões.

O objetivo, explicou, é evitar o início de uma gravidez numa situação pandémica com “todos os pontos de interrogação” que se colocam relativamente ao efeito do vírus numa fase precoce da gravidez porque não há dados para essa realidade não há dados.

Na China, os primeiros casos começaram em dezembro e apenas dentro de quatro, cincos meses começarão a nascer os bebés das mulheres que engravidaram nessa altura. “Portanto, face a todas estas dúvidas achamos que era prudente recomendar aos diretores dos centros um adiar da transferência dos embriões para uma fase em que a situação pandémica estivesse em resolução”.

Pedro Xavier ressalvou que a posição da SMPR, em linha com as orientações da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, baseia-se em dados ainda muito preliminares, sem a consistência científica que habitualmente está na base neste tipo de recomendações.

“No entanto, achamos que não só pela prudência, mas também porque pensamos que o Estado ao pedir o recolhimento máximo das pessoas no sentido da não propagação do vírus, será também um contributo se não estivermos a promover os tratamentos, obrigando os casais a deslocar-se às clínicas” para manter os tratamentos.

Segundo Pedro Xavier, esta recomendação é “talvez ainda mais importante para os centros públicos” do que para os centros privado, uma vez que estão todos inseridos em unidades hospitalares que neste momento estão a tratar doentes infetados com o novo coronavírus.

“Os centros públicos têm essa realidade de um meio hospitalar onde a possibilidade de estarem a tratar em simultâneo casais com infertilidade e, no mesmo hospital, doentes covid positivos será maior”, vincou.

O especialista em Medicina de Reprodução ressalvou que a posição da SPMR “não é vinculativa”, deixando à consideração dos diretores dos centros “a decisão última de prosseguir ou não com os tratamentos de fertilidade”.

O Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida emitiu um comunicado posterior ao da SPMR fazendo referência à posição dos especialistas, também reiterando que a decisão caberá aos responsáveis dos centros dos centros.

“Não há uma proibição formal há apenas uma recomendação e pelo que me vou apercebendo a maior parte dos centros nacionais está a seguir essas recomendações”, afirmou, na expectativa de ver como evolui a situação pandémica para depois retomar a sua atividade normal.

“Nós estamos com a esperança de que talvez para maio possamos retomar a atividade com a devida prudência, mas para já ainda é bastante prematuro”, sublinhou.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais 480 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 22.000.

Em Portugal, registaram-se 60 mortes, mais 17 do que na véspera (+39,5%), e 3.544 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 549 novos casos em relação a quarta-feira (+18,3%).

O país encontra-se em estado de emergência até 02 de abril devido à pandemia.