“Cada um deve prevenir-se e ficar em casa. Se tiverem de ir trabalhar, utilizem os métodos que as autoridades de saúde recomendam”, disse à Lusa Fernando Coxi, de 64 anos.
O morador não sabe quem são as 16 pessoas que estão infetadas com covid-19, mas defendeu que o surto foi causado por pessoas de outras localidades que visitam os cafés do bairro.
“Muitos falam da Jamaica, mas não são habitantes da Jamaica. Quem traz isso são as pessoas que vêm de fora, não usam máscara e [os cafés] ficam sobrelotados. Nós já apresentámos a questão às autoridades, a câmara tem conhecimento e está a lutar para ver se conseguem acabar com essa situação toda”, indicou.
Pelas 11:00, o bairro clandestino de Vale de Chícharos, mais conhecido como Jamaica, estava praticamente deserto e a maioria dos moradores evitaram falar à comunicação social.
No entanto, na quarta-feira, o presidente da Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos, Salimo Mendes, defendeu que o bairro devia ser “isolado” e limitado aos moradores, responsabilizando as “pessoas que vêm de outros concelhos” pelo foco de infeção de covid-19.
“Os cafés ao fim de semana não deixam dormir as pessoas que trabalham, com música e ajuntamento de pessoas que não usam máscara”, relatou, na ocasião.
À primeira vista, é difícil identificar quais e quantos são os cafés mencionados pelos moradores, até porque não há qualquer identificação e ainda estavam fechados, mas foi possível deduzir que se trata de três infraestruturas, localizadas no rés-do-chão dos edifícios inacabados.
Depois do alerta dos moradores, o delegado regional de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Mário Durval, anunciou hoje que as autoridades estão a preparar o encerramento dos cafés localizados no bairro da Jamaica, por duas semanas.
Apesar de ter a noção de que alguns moradores “vão ficar contra” a medida, Luísa Bragança, de 54 anos, mostrou-se a favor.
“Concordo sim. As pessoas são teimosas e não querem ficar em casa, querem ficar ligadas e divertir-se, mas esquecem-se que a doença está aí. O cuidado é ficar em casa e não se misturarem”, frisou a moradora.
A Lusa contactou a Câmara do Seixal para saber se estes estabelecimentos se encontram legalizados, mas até ao momento não foi possível obter esclarecimentos.
No entanto, ao telefone, o presidente da associação de moradores levantou a questão: “se o bairro é considerado ilegal, como é que os cafés vão ser legais?”.
Na terça-feira, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, informou que foram identificados três focos comunitários na área abrangida pelo Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Almada-Seixal, com um total de 32 pessoas infetadas, 16 dos quais no bairro da Jamaica.
No entanto, na terça-feira em comunicado, a Câmara do Seixal tinha adiantado que o foco de covid-19 em Vale de Chícharos teve origem “numa festa na Aroeira (Almada) em que participaram vários jovens de diversos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa (AML)”, entre 01 e 03 de maio.
Atualmente residem 74 famílias em condições precárias nos edifícios inacabados de Vale de Chícharos (lotes 13, 14 e 15), as quais aguardam pela segunda fase de realojamentos, que deveria ter acontecido até dezembro do ano passado.
Em 17 de fevereiro, a Câmara do Seixal informou que o processo se encontrava atrasado devido à especulação imobiliária, apelando ao Governo para reduzir o “grande diferencial” de comparticipação nos realojamentos.
A primeira fase terminou em 20 de dezembro de 2018, quando 187 pessoas foram distribuídas por 64 habitações em várias zonas do concelho.
Portugal contabiliza 1.369 mortos associados à covid-19 em 31.596 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia, divulgado hoje.
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