Em França, os presidentes das câmaras municipais estão a tentar resistir ao apelo do Governo para reabrir as escolas, enquanto em Itália, os governadores tentam forçar Roma a levantar as restrições mais rapidamente.
No Reino Unido, o objetivo do Governo é reativar a economia rapidamente, enquanto na Escócia, a primeira-ministra, Nicola Sturgeon, alertou para o perigo de agir rápido demais, defendendo que o que é preciso agora é “manter as atuais restrições”.
O Reino Unido – o país europeu mais afetado pela pandemia — deverá prolongar hoje o confinamento nacional, mas espera aliviar algumas restrições à atividade económica e social na próxima semana.
As restrições que impedem os britânicos de sair de casa exceto para tarefas essenciais, fazer compras e exercício foram impostas em 23 de março e deverão permanecer em vigor pelo menos até domingo, altura em que o primeiro-ministro, Boris Johnson, planeia estabelecer um plano para a “fase dois” da pandemia.
O número oficial de mortos causado pela infeção da COVID-19 no Reino Unido é de 30.076, atrás apenas dos Estados Unidos.
As divisões também se sentem do outro lado do Canal da Mancha, em França, onde mais de 300 autarcas da região de Paris pediram ao Presidente, Emmanuel Macron, que adie a reabertura das escolas programada para segunda-feira.
Muitos autarcas de todo o país já se recusaram a reabrir as escolas e muitos pais garantiram que os seus filhos continuarão em casa, mesmo que as escolas voltem a funcionar.
Os presidentes dos municípios franceses consideram que a rapidez de abertura das escolas é “insustentável e irrealista” e queixa-se de estar a ser forçados a preparar o reinício das aulas presenciais sem funcionários ou equipamentos suficientes.
Mas os governos também estão sob pressão, sobretudo para que a economia seja ativada mais depressa e para que receba um impulso que possa afastar as consequências desta “hibernação”.
É o caso da Itália, onde os governadores regionais estão a pressionar a reabertura de lojas e restaurantes, apenas alguns dias depois de o país começar a diminuir restrições que estiveram em vigor nos últimos dois meses, permitindo que 4,5 milhões de pessoas voltem ao trabalho em escritórios e fábricas.
Os governadores querem poder apresentar seus próprios planos de reabertura, adaptados à taxa de infeção local e às necessidades económicas das suas regiões.
Na Alemanha, cujos 16 governos estaduais são responsáveis por impor e aliviar as restrições, alguns governadores mostram-se mais impacientes do que outros.
Numa reunião realizada na quarta-feira com a chanceler Angela Merkel, foi acordado que os líderes estaduais teriam ampla margem de manobra para decidir quando abrir mais setores da economia, mas também terão de voltar a impor restrições localmente se for registado novo aumento das infeções por coronavírus.
Na Rússia, onde o número de novas infeções está a crescer rapidamente, o Presidente, Vladimir Putin, delegou a aplicação de restrições aos governos regionais, o que provoca grandes variações no país.
Mikhail Vinogradov, chefe do ‘think tank’ de Política de São Petersburgo, disse ao jornal Vedomosti que o governo de Moscovo estava a enviar mensagens contraditórias aos governadores, defendendo a prioridade de vencer o vírus, mas, ao mesmo tempo, incentivando reduções de restrições.
As divisões internas também são evidentes nos Estados Unidos, onde cerca de metade dos 50 Estados estão a diminuir as restrições, provocando o alarme das autoridades de saúde pública.
Muitos Estados não implementaram as regras de fazer o maior número possível de testes e rastrear os contactos, mas muitos governadores avançaram com a reabertura das atividades económicas antes de cumprirem 14 dias com descidas sistemáticas de vítimas.
“Se relaxarmos as medidas sem as devidas salvaguardas para a saúde pública, podemos ter muito mais casos e, infelizmente, mais mortes”, avisou Josh Michaud, diretor associado de política global de saúde da Kaiser Family Foundation, em Washington.
Os investigadores duplicaram, recentemente, as suas estimativas de mortes nos EUA para cerca de 134.000 até ao início de agosto. Até agora, o país registou mais de 70.000 mortes e 1,2 milhões de infeções confirmadas.
Em todo o mundo, o vírus infetou mais de 3,7 milhões de pessoas e matou mais de 263 mil, de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins, apesar de os especialistas considerarem que estes números subestimam as dimensões da pandemia, já que a quantidade de testes realizada é limitada e há diferenças na contagem de mortos ou omissão por alguns governos.
A Europa e a América do Norte estão a observar nervosamente os países asiáticos, cuja reabertura da economia já começou.
A China, onde o vírus surgiu no final do ano passado, relatou hoje apenas dois novos casos, ambos com origem no estrangeiro, e disse que agora todo o país está em baixo risco de novas infeções.
O distanciamento social também parece ter vencido a pandemia na remota nação insular da Nova Zelândia, onde a primeira-ministra, Jacinda Ardern, apresentou planos para aliviar mais restrições na próxima semana.
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