Em declarações à agência Lusa a propósito do acumular de dezenas ambulâncias nos últimos dias à porta do Hospital de Santa Maria (Lisboa), o responsável pelos CODU do INEM explicou que, até aqui, os doentes só podiam ser transportados para unidades hospitalares.
“De acordo com atuações aplicadas ao CODU, a legislação em vigor prevê que o INEM faça o transporte do doente urgente para unidades hospitalares com nível de serviço urgência básico, serviço urgência médico-cirúrgico e serviço de urgência polivalente, não para centros de saúde”, explicou António Taboas.
O responsável acrescentou que, “com as indicações que a ARS disponibilizou de unidades saúde, como os centros de saúde, é possível e está implementado a partir de hoje”.
Explicou que, com esta alteração, o doente pode ser transportado para os cuidados de saúde primários tanto a partir da pré-triagem das equipas criadas em Santa Maria como do próprio domicílio, ou de outro local onde o doente esteja a ser assistido.
O Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (que inclui o Santa Maria) anunciou na quinta-feira a criação de equipas de pré-triagem para avaliar os doentes que chegam em ambulâncias ao Santa Maria e, se não precisarem efetivamente de assistência na urgência hospitalar, serão encaminhados para o Agrupamento de Cuidados de Saúde (ACES) de Sete Rios e Odivelas.
Reconhecendo que esta mudança vai ajudar a diminuir as filas de dezenas de ambulâncias que diariamente aguardam à porta do Santa Maria, o responsável sublinhou que “nem todas ambulâncias que estão à espera são acionadas pelos CODU do INEM”, pois “qualquer pessoa que solicite uma ambulância para transporte às urgências pode ser encaminhada por sua iniciativa”.
António Taboas recordou ainda que o Hospital de Santa Maria “esteve a receber até quinta-feira à noite doentes de toda a área influencia do Hospital Amadora-Sintra e que, pontualmente, já havia indicação da ARS para os doentes serem desviados para Santa Maria por constrangimentos noutros hospitais.
O responsável sublinhou que “a finalidade dos cuidados de saúde primários não é a urgência” e que alguns centros de saúde não têm capacidade para alguns exames, mas que, face a este problema, “houve com certeza necessidade que a ARS preparasse estas unidades”.
Questionado sobre aos dados revelados pelo Hospital de Santa Maria de que apenas 15% dos doentes que chegam às urgências são efetivamente doentes urgentes ou emergentes, o responsável do INEM disse que os dados do instituto são diferentes.
“Quando estamos a avaliar um doente mediante chamada [à distância] estamos a usar protocolos aprovados pela Ordem dos Médicos. Há sempre regulação médica das chamadas atendidas nos CODU e as equipas que vão ao local onde a vítima se encontra assistem-na, o que pode fazer com que o grau de gravidade inicialmente identificado possa ser diferente quando o doente chega ao hospital.
Numa situação de baixa de açúcar no sangue, em que o doente está inconsciente e não responde, essa é uma situação para nós de doente urgente ou emergente e as equipas assistem-no. Se durante o percurso o doente responde ao tratamento e começa a melhorar os níveis de açúcar no sangue, chega ao hospital e a triagem vai ser efetivamente de menor gravidade”, exemplificou, sublinhando que a condição clínica do doente não é estática.
Segundo disse, os dados referentes ao mês de janeiro mostram que, por exemplo, dos doentes com dificuldade respiratória a quem foi aplicada oxigenoterapia, a grande maioria, a nível nacional, acaba por ter uma triagem inicial de maior gravidade do que aquela que é feita à chegada ao hospital.
“Nós não fazemos apenas o transporte do doente”, sublinhou.
Ainda sobre o encaminhamento de doentes, António Taboas disse que das chamadas que o INEM recebe diariamente, 10% são encaminhadas para o SNS24 e não são acionados meios de emergência. “Em média são enviadas cerca de 350 por dia”, disse.
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