A coordenadora deste grupo de trabalho, a psicóloga clínica Margarida Gaspar de Matos, disse à Lusa que esta será uma das propostas do relatório final que será hoje entregue ao Governo, depois de a ‘task-force’ ter terminado o seu mandato no final de dezembro.
“Em Portugal não há estruturas deste género permanentes, mas elas existem noutros países e nós entrevistámos os diretores para perceber qual a melhor forma de criar este centro de ciências do comportamento, com independência científica e não política, que esteja ligada ao Governo e possa, com algum peso de decisão, aconselhar, na linha do fizemos com a ´task-force’”, explicou à Lusa a especialista.
Margarida Gaspar de Matos deu o exemplo dos irlandeses e dos ingleses, cujos governos contam com o apoio de estruturas permanentes no apoio científico à tomada de decisões.
Num balanço ao trabalho da ‘task-force’ disse que foi positivo e contou que foi muito desafiante, relatando que os seis especialistas deste grupo – um antropólogo e cinco psicólogos – reuniram sempre via zoom, por causa da pandemia.
“Nós organizámo-nos por grupos de trabalho. Um deles, o da comunicação, esteve mais dedicado a ver os materiais e as mensagens visuais que se passavam, enquanto outro coligia dados de universidades que faziam investigação. Estes eram grupos de trabalho de ‘sprint’. O outro era mais de maratona e fazia a revisão da literatura que se publicava, em Portugal e no estrangeiro”, explicou.
Eram estes os especialistas que faziam depois as recomendações ao Governo sobre as mensagens a passar e de que forma, explicou Margarida Gaspar de Matos, acrescentando que a velocidade a que as coisas iam mudando, por imposição da pandemia, como por exemplo, quando apareceu a variante Delta, ainda dificultava mais o trabalho.
“Recomendávamos todas as semanas. Mas depois os políticos é que decidiam”, afirmou.
Contou ainda que, como as recomendações acabaram por ter muita variação, por vezes foi preciso fazer um “alerta vermelho” pois senão as pessoas baralhavam-se.
“Aqui não foi por não se perceber de comunicação, foi porque a realidade era mesmo muito instável”, disse a especialista, acrescentando que a mensagem deve ser sempre simples e muito clara: “para o senhor do quiosque perceber tudo e não ter de estar a discutir com os transeuntes sobre se se deve fazer assim ou assado”.
Margarida Gaspar de Matos disse ainda que este grupo, como funcionava em regime de ‘task-force’, em emergência, não conseguiu fazer investigações no terreno, mas que uma estrutura permanente poderia permitir isso.
“Por vezes poderíamos testar com grupo de pessoas e ver logo que tipo de mensagem resultava melhor. Mas não conseguimos, pois estivemos sempre a trabalhar em estado de emergência. Não dava para muitas investigações de campo”, afirmou.
Sublinhando a importância de uma estrutura permanente, lembrou que o grupo de trabalho das ciências comportamentais era formado por pessoas que não se conheciam e que trabalharam sempre à distancia e ‘pro buono’.
“Qualquer euro que tivéssemos de gastar, era mais prático oferecer ao país, pois de outra forma as coisas não aconteciam”, reconheceu, sublinhando a importância de criar uma estrutura permanente, com um coordenador que escolha equipa e com uma alocação financeira.
“Tem de ter poder de decisão, conseguir vencer a imensa burocracia que temos e precisa de alocação financeira. É difícil conseguir este equilíbrio, mas tem de ser”, considerou a especialista, acrescentando: “O país lucrava se conseguíssemos fazer valer este centro e com a maior rapidez”.
Margarida Gaspar de Matos referiu ainda que devia haver "uma mensagem muito clara sobretudo sobre a vacinação das crianças", acrescentando que as posições contrárias que surgem sobre esta vacinação dão uma má imagem da ciência.
"Se temos um método científico, não é possível fazer o mesmo e de cada vez temos um resultado diferente. Não pode ser assim … uns enviesam para um lado, outros para outro e o ruído é patológico. E dá uma má imagem da ciência", afirmou
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