“Portugal, que conseguiu dos melhores resultados do mundo na vacinação com as duas primeiras doses, neste momento a verdade é que existe uma certa complacência. Fomos os melhores do mundo, mas a verdade é que não somos verdadeiramente os melhores do mundo no que diz respeito à terceira dose. Estamos atrás da maioria dos países do mundo e temos de recuperar isso”, disse José Manuel Durão Barroso.

Num debate sobre “Saúde e Inovação: As (Últimas) Lições de uma Pandemia” no âmbito do 8.º encontro anual do Conselho da Diáspora Portuguesa, em Cascais, o ex-primeiro-ministro português lembrou que “está mais do que demonstrado” que as vacinas evitam pelo menos os casos mais graves de covid-19 e a morte, sublinhando que a esmagadora maioria das pessoas que morrem atualmente não estava vacinada.

Lembrou também que a nova variante Ómicron do SARS-CoV-2 não é tão mortífera como as anteriores, nomeadamente como a variante Delta, mas tem uma capacidade que a Delta não tinha de escapar à proteção que as vacinas oferecem quanto às infeções ou reinfecções, “razão pela qual ela está a crescer exponencialmente”.

“Tudo isto recomenda que as pessoas se vacinem e, se puderem tomar a terceira dose, devem tomá-la”, disse Durão Barroso, para quem “os detentores de cargos políticos devem ter a coragem de explicar às pessoas” os factos.

Em declarações à Lusa à margem do encontro, Durão Barroso felicitou “muito sinceramente” todos os que contribuíram para o sucesso da vacinação nas duas primeiras doses da vacina anti-covid-19, mas lamentou que, em relação à terceira dose esteja atrás da média europeia.

“Eu acho que não devíamos neste momento relaxar nos nossos esforços”, disse o ex-primeiro-ministro, alertando que há países europeus que já estão a administrar doses de reforço a partir dos 18 anos, enquanto Portugal ainda está neste momento a vacinar pessoas com 63 anos ou mais.

Durão Barroso lembrou que as vacinas têm um tempo de eficácia limitado, pelo que a população estará tanto mais bem protegida quanto mais rapidamente tiver acesso à terceira dose.

“Apelo a que não houvesse um relaxar do esforço e que se conseguisse, como se conseguiu com brilhantismo em relação às duas primeiras doses, que se conseguisse o mesmo resultado em relação à dose de reforço”.

A ministra da Saúde rejeitou na quarta-feira que esteja a haver atrasos na administração da terceira dose, recordando que havia uma previsão de vacinar até ao Natal 1,4 milhões de pessoas e foram vacinadas mais um milhão (2,4 milhões).

“Recordo que o objetivo que tínhamos fixado até ao Natal era vacinar todos os que tinham mais de 65 anos e conseguimos fazê-lo exceto para aqueles que não procuraram o centro de vacinação e não tínhamos antecipado vacinar as pessoas que levaram a vacina da Janssen” e iniciar a vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos.

A covid-19 provocou mais de 5,37 milhões de mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 18.840 pessoas e foram contabilizados 1.253.094 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em vários países.

Uma nova variante, a Ómicron, classificada como preocupante pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, a 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 89 países de todos os continentes, incluindo Portugal.