Segundo Mário Centeno, a única saída para a crise provocada pela COVID-19, que classificou como “um choque de dimensões sem precedentes”, não é a austeridade, mas “distribuir o custo da crise ao longo do tempo”, já que o sobreendividamento dos países é inevitável.
"Precisamos de dois anos inteiros pelo menos para voltar ao nível de 2019. Com cautela, porque a dívida [pública] requer mais tempo, mas é fazível que em finais de 2022 voltemos aos níveis de 2019”, disse em entrevista aos jornais El Mundo (Espanha), Le Monde (França), Frankfurter Allgemeine Zeitung (Alemanha), Corriere della Sera (Itália) e NRC (Holanda).
Sobre os instrumentos para ajudar os Estados-membros, afirmou Centeno que os Estados-membros têm de ser inovadores nos planos de financiamento e de recuperação económica e que não tem preferência pelo instrumento a usar, que o importante é que “dê uma resposta adequada”.
Sobre os 'eurobonds' (emissão de dívida conjunta pelos Estados-membros), disse não excluir essa possibilidade mas que a solidariedade não passa só por aí.
“O objetivo económico é muito claro e está no acordo [feito no Eurogrupo]: distribuir o custo ao longo do tempo com financiamento apropriado, temos de ser inovadores, pensar 'out of the box’ [fora da caixa], fora das convenções, e dar uma resposta precisa”.
Sobre o Fundo de Recuperação que o Eurogrupo acordou criar, não indicou o valor que terá disponível, mas afirmou que terá “um tamanho muito considerável, de doze zeros” (ou seja, biliões de euros), ainda que não seja já nas próximas semanas que será fechado o montante exato de que disporá até porque há que quantificar com mais precisão o custo desta crise.
Mário Centeno defendeu ser essencial que um plano de recuperação arranque quando começarem a ser revertidas as medidas de confinamento, pelo que será necessário "dinheiro à disposição no princípio do verão ou final da primavera".
O presidente do Eurogrupo disse ainda que a política monetária não pode ser o único instrumento disponível, que é necessário ferramentas para partilhar o risco ao nível da União Europeia, que complementem as medidas do Banco Central Europeu (BCE), e pediu aos países do Sul para não abandonarem o caminho da redução dos riscos e aos do Norte para perderem o medo à mutualização do risco.
Na semana passada, após cerca de 20 horas de reunião, o Eurogrupo aprovou um pacote de ajuda financeira de emergência no valor de mais de 500 mil milhões de euros aos Estados-membros: apoio às empresas através do Banco Europeu de Investimentos (BEI), no valor de 200 mil milhões de euros; apoio aos Estados-membros através do Mecanismo de Estabilidade Europeia (MEE), no total de 240 mil milhões, e ao qual cada país pode recorrer até ao máximo de 2% do seu PIB e finalmente, criação de uma espécie de seguro de desemprego que corresponda às medidas que são necessárias para sustentar o emprego e o rendimento dos trabalhadores (programa SURE), de 100 mil milhões de euros.
O Eurogrupo acordou ainda a criação de um fundo de recuperação após a crise gerada pela COVID-19, mas pediu aos líderes europeus, que se irão reunir por videoconferência no próximo dia 23, para decidirem "o financiamento mais apropriado", se através da emissão de dívida ou de "formas alternativas".
Caberá agora aos líderes europeus acordar os detalhes deste fundo de recuperação, desde logo as fontes de financiamento, os aspetos jurídicos e ainda a sua relação com o orçamento europeu.
A pandemia de COVID-19 já provocou, a nível mundial, quase 127 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 428 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 599 pessoas das 18.091 registadas como infetadas.
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