“As coisas estão um pouco confusas. Há a vontade de viajar por parte das pessoas, mas muita gente ainda nem marcou férias e agora estão a começar a acordar. Antes as reservas começavam em maio, agora recebemos chamadas uma semana antes”, revelou João Paulo Sá, sócio e gerente da empresa Top Evasion, em declarações à Agência Lusa.
A Top Evasion assegura há mais de 10 anos uma linha regular semanal de autocarro entre França e Portugal. Parada durante o confinamento, esta empresa portuguesa que opera também em terras gaulesas retomou as viagens a 22 de maio e no mês de julho tem levado os autocarros no máximo da capacidade atual – dois terços da lotação máxima.
Se há hesitação por parte dos emigrantes por um lado, João Paulo Sá tem a “concorrência forte dos espanhóis” do outro, levando este empresário a propor medidas extra de segurança sanitária aos seus clientes.
“O nosso critério é que um desconhecido não vai sentado ao lado de outro desconhecido. Tentamos sentar as famílias umas com as outras e com um lugar de intervalo com outros passageiros”, indicou o gerente da Top Evasion, explicando que os passageiros são fortemente incentivados a usar máscara e que as temperaturas são medidas antes da partida.
Segundo Rui Lafayette, responsável pela agência de Paris da MZ Voyages, cadeia de agências de viagens especializada em deslocações para Portugal, ainda há “medo” em viajar.
“Quando as fronteiras abriram, houve mais aviões a voar e estamos a trabalhar um bocadinho com Portugal. Há muita gente que não vai, com medo, mas mesmo assim ainda vendemos”, afirmou.
No entanto, a agência tem menos franceses com vontade de ir até terras portuguesas e até os emigrantes têm procurado outras alternativas como fins de semana nos países vizinhos da França, estadias em França com deslocações de carro ou até mesmo outros destinos como a Grécia.
A culpa, segundo este agente turístico, é a informação: “O problema hoje é a informação. As pessoas não compreendem o que se diz na televisão e transformam tudo. Ontem não trabalhei e ligaram-me a dizer que as fronteiras iam fechar novamente. E eu tive de dizer que não era verdade”.
As viagens de carro particular parecem ser uma opção escolhida por muitos portugueses que partilham dicas de viagem nas redes sociais, mas o acréscimo não está a ser sentido por quem trabalha no setor.
“Há muitas pessoas que vão de carro, mas é dentro do que é normal. Não notei muita diferença em relação ao trabalho que temos”, sublinhou David Ribeiro, sócio da oficina Ribeiro, em Tourcoing.
Apesar de fazer anualmente a viagem de carro, este ano David Ribeiro faz parte dos lusodescendentes que não vão a Portugal. “É mais pelo vírus que não vou. Este ano vou ficar em França e vou fazer alguns fins de semana de férias entre as semanas de trabalho”, afirmou, indicando que tem viagem prevista para o Natal.
O clima de incerteza leva a que as empresas de transportes e outros negócios associados antecipem um ano complicado.
“No nosso negócio vai ser um ano difícil porque a nossa empresa não sobrevive só através da linha internacional, mas através do turismo e do transporte escolar. Temos cinco autocarros, mas só estamos a trabalhar com um”, concluiu João Paulo Sá.
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