“A covid-19 está a ter uma evolução lenta e controlada, bastante mais lenta e controlada do que se estava a imaginar há uma semana, o que significa dizer que a necessidade de transferência de serviços pode, inclusivamente, não se verificar”, disse à Lusa fonte oficial do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC).

Esta informação surge depois da notícia de que o diretor do Serviço de Cirurgia Geral e Transplantação do Hospital Curry Cabral, Américo Martins, se demitiu na quarta-feira por ter visto impedida a proposta de reorganização do serviço na unidade, que passava pela criação de dois circuitos independentes para manter os serviços destinados aos doentes oncológicos e transplantados no Curry Cabral, em vez de serem transferidos para o Hospital de Santa Marta (também pertencente ao CHULC).

No entanto, a administração do CHULC afirma não ter “conhecimento oficial de qualquer pedido de demissão por parte do Dr. Américo Martins”.

O diretor do Serviço de Cirurgia Geral e Transplantação do Hospital Curry Cabral, Américo Martins, que se demitiu na quarta-feira disse hoje à Lusa que o Conselho de Administração deve aceitar o plano de reorganização que os médicos apresentaram.  "Tem de haver um recuo por parte da Administração até pela dimensão do apoio que estamos a ter: os doentes transplantados já fizeram uma petição ao Presidente da República e ao Governo e a nível interno os cirurgiões estão todos unidos contra o Conselho de Administração. Só têm uma alternativa, têm de recuar", afirmou o cirurgião, sublinhando total incompreensão sobre a posição do conselho.

Transferência é uma "possibilidade", diz CHULC

Sobre a transferência do Centro Hepatobiliopancreático e de Transplante (CHBPT) do Hospital Curry Cabral para Santa Marta, é uma “possibilidade sempre presente”, admitiu a fonte oficial do CHULC , explicando que não se pode “permitir que os doente de covid se misturem com os doentes de transplante”.

Lembrando que os cuidados intensivos do Curry Cabral ficam situados numa única área, a administração frisa que “não pode acontecer, não se pode permitir, que haja qualquer possibilidade de contágio de doentes de covid com doentes transplantados, pois isso seria um desastre completo”.

Neste momento, nos cuidados intensivos, ainda há a possibilidade de separar os doentes de covid-19 dos transplantados, “mas em todo o caso estamos a falar do mesmo piso”, salienta.

“Foi por esse motivo que se resolveu pôr a hipótese e começámos a avançar com a transferência dos serviços temporariamente para Santa Marta, onde há transplante do coração, transplante de pulmões, há uma quantidade de tecnologia que ali já está e que, portanto, se adapta. Aliás, foi criado um novo bloco, especialmente para receber esses doentes do foro hepatobiliopancreático, “e tudo isso está a andar”, disse, sublinhando: “simplesmente parece que a rapidez com que se imaginava que isso pudesse acontecer não se está a verificar e portanto, para já, os doentes do centro hepático e pancreático vai continuar no Curry”.

Perante isto, o CHULC afirma não haver “grande razão” para o diretor de serviço se demitir.