Para católicos, muçulmanos ou judeus, o surto do novo coronavírus e as restrições decorrentes da declaração de Estado de Emergência em Portugal são “um desafio”, como reconheceu à Lusa o padre Manuel Barbosa, porta-voz e secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, o organismo que no passado dia 13 anunciou a suspensão das missas, catequeses e outros atos de culto.

“Temos de cumprir perante esta tragédia e tem-se intensificado muito uma participação na Internet e nas redes [sociais], quer na eucaristia, quer na oração do rosário e até em catequeses. Estamos a acompanhar todos os fiéis para que não fiquem à parte da comunhão espiritual”, explicou o representante católico sobre o recurso às novas tecnologias.

Recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS)

  • Caso apresente sintomas de doença respiratória, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.
  • Evitar o contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas; evitar o contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto direto com pessoas doentes, com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir;
  • Evitar o contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Adotar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo);
  • Seguir as recomendações das autoridades de saúde do país onde se encontra.

Este período de emergência veio coincidir com a Quaresma, uma das épocas mais importantes do ano para os católicos. Manuel Barbosa admitiu que o atual contexto “vai atingir” também a Páscoa.

“O Papa já disse que as cerimónias em Roma vão ser privadas e depois transmitidas, e aqui, certamente, vai acontecer o mesmo. Portanto, [a Quaresma] pode dar mais alguma força espiritual, porque é um tempo muito propício a esta purificação. Tem essa dimensão que nos pode ajudar com mais intensidade a nível espiritual”, notou, assegurando que o apoio aos mais carenciados por parte da Igreja Católica não vai faltar neste período.

Para tempos de exceção, medidas excecionais. Foi o caso da Mesquita Central de Lisboa, epicentro da Comunidade Islâmica na capital, que, pela primeira vez desde a sua construção em 1985, não realizou na última sexta-feira o ‘Salatal Jumuah’, a principal oração da semana, face à proibição de eventos para mais de 1.000 pessoas. Um cenário que se repete hoje, com a mesquita encerrada por tempo indeterminado.

“Isto vai mudar o nosso dia a dia, é pior do que o 11 de setembro [de 2001]. O nosso relacionamento vai mudar – mas será que seremos mais solidários ou não? Tudo isto vai ser uma grande lição para a humanidade, não só para europeus, chineses ou americanos”, afirmou o Sheik David Munir, imã da mesquita, que reconheceu já antes da declaração do Estado de Emergência uma quebra na afluência das pessoas às orações.

Contrariamente à comunidade católica, o culto online “não é possível”, segundo David Munir. No entanto, o imã apelou aos muçulmanos que estão em casa para que “intensifiquem as orações facultativas, além das obrigatórias”, e que peçam a Deus o fim desta “calamidade”, comunicando, sobretudo, através do grupo do Whatsapp ‘Info Islam’, que reúne uma parte significativa da comunidade.

“É um tempo para todos nós, religiosos e não religiosos, refletirmos. Além de sermos solidários, é o momento de olharmos para nós próprios. O que é que eu tenho vindo a fazer? Qual a relação que tenho com o meu criador? [Há que] refletir, ponderar e corrigir, se necessário. E, acima de tudo, valorizar o que se tem”, declarou, acrescentando que já nem há lavagens de corpo ou rituais na mesquita quando morre alguém, com o corpo a seguir diretamente para o cemitério.

Igualmente fechada está a Sinagoga de Lisboa, “uma dor de alma e um sentimento de completa impotência” para Isaac Assor, oficiante dos serviços religiosos do espaço de culto dos judeus lisboetas, que fez à Lusa o retrato de uma “comunidade preocupada”, enfatizando a importância de as pessoas se reconectarem agora com Deus.

“Há uma coisa que pouco se tem falado neste período frágil que o mundo vive: Deus e o papel que todos devemos ter, neste momento, de oração. As pessoas poderão virar-se para a fé individualmente. Com tanto avanço tecnológico, hoje encontramo-nos todos no mesmo pé. Só Deus nos poderá dar esta resposta, nem que seja num apoio espiritual”, disse.

Segundo o representante da comunidade judaica portuguesa, que conta entre 1.500 a 2.000 pessoas, a utilização das tecnologias e das redes sociais “não é a solução” para a continuação do serviço religioso, sobretudo para o ‘Shabat’ [Sábado], o dia sagrado para os judeus, uma vez que é proibido fazer qualquer trabalho desde o pôr do sol de sexta-feira até ao aparecimento das três estrelas do anoitecer de sábado.

“Neste sábado anunciamos o mês de Nissan, da Páscoa judaica, em que celebramos a libertação coletiva do povo de Israel da escravidão no Egito. E isto calha numa altura em que estamos presos na nossa casa, privados de alguma liberdade. É uma curiosidade num tempo de introspeção”, confessou Isaac Assor, sem deixar de fazer um último alerta: “Há um outro vírus que nos pode causar ainda mais danos do que o Covid-19: o vírus do medo, do individualismo e da indiferença”.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 235 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 9.800 morreram.

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