A medida vai estender-se de 22 a 30 de maio, inclusive. “Depois desses nove dias, serão retomadas as atividades como hoje [quinta-feira] estão vigentes [com recolher obrigatório entre as 20:00 e a 06:00]. No fim de semana dos dias 05 e 06 de junho, voltarão as restrições”, anunciou Alberto Fernández, a partir da residência presidencial, na rede nacional de rádio e televisão.

Durante o anúncio, o Presidente evitou usar as palavras “confinamento” ou “quarentena”, ciente do trauma na sociedade argentina que, durante 2020, viveu 233 dias naquela que foi denominada como a quarentena mais prolongada do mundo.

“Sou consciente de que essas restrições geram dificuldades”, admitiu Alberto Fernández, advertindo que “a Argentina está a viver o pior momento desde que começou a pandemia”.

“Estamos com a maior quantidade de casos e de falecidos. O problema é gravíssimo na Argentina. Estamos em recorde de contágios e falecimentos. O problema não se limita a determinada parte do território. É muito grave e evidente em todo o país”, alertou.

A Argentina tornou-se o país com mais mortes diárias por cada milhão de habitantes, de acordo com os dados cruzados do portal “Our World In Data”, da Universidade de Oxford. São 16,46 mortes por milhão de habitantes enquanto o Brasil, por exemplo, tem 11,82 mortes por milhão.

Na terça-feira, o país teve 745 mortes, proporcionalmente, apenas atrás de Índia, Brasil e Estados Unidos. Em número de contágios, mesmo sendo um dos países que menos testa, a Argentina ficou atrás apenas de Índia e Brasil.

As autoridades anunciaram 35.884 casos e 435 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, elevando o total de infetados para 3.447.044 e o de óbitos para 72.669.

No ‘ranking geral’, a Argentina é o quarto país com mais óbitos na América do Sul, atrás apenas de Brasil, Peru e Colômbia.

A partir de sábado serão suspensas todas as atividades sociais, económicas, educativas, religiosas e desportivas. Só funcionarão os comércios essenciais e as entregas ao domicílio.

“Este esforço coletivo vai ajudar-nos a atravessar esses meses de frio, reduzindo os contágios e falecimentos”, explicou Fernández, indicando o risco de colapso do sistema de saúde.

Na média nacional, 72,6% dos leitos de cuidados intensivos estão ocupados. Na região metropolitana de Buenos Aires, a média sobe para 76,4%. Porém, em alguns distritos, o colapso já é uma realidade.

“Há cidades e províncias que têm hoje o seu sistema de saúde no limite, com hospitais públicos e clínicas privadas à beira de não poder dar uma resposta”, admitiu o Presidente, lançando um apelo para as pessoas cumprirem com as medidas.

“Vou insistir: é decisivo que as autoridades locais apliquem estritamente as normas. Não há espaço para especulações e não há tempo para dúvidas. Quanto à população, peço-lhes que tomem consciência da gravidade do momento”, pediu.

O pedido em tom de imploração tem uma lógica social. Depois da quarentena de oito meses no ano passado, existe um cansaço coletivo numa economia devastada. A economia Argentina contraiu 10% e a inflação acumulada nos primeiros quatro meses do ano chega a 17,6% e a anual chega a 60%. A pobreza registada no último trimestre de 2020 foi de 45%, com tendência para aumentar.

Perante esse quadro, na terça-feira, o Presidente descartou voltar ao confinamento que, 48 horas depois, adotou.

“Não vou voltar [ao confinamento]. Eu teria um problema sociológico. As pessoas não resistem. Essa é a verdade”, dizia Alberto Fernández, antes de mudar de ideia.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.419.488 mortos no mundo, resultantes de mais de 164,8 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência de notícias France-Presse (AFP).

Em Portugal morreram 17.014 pessoas dos 843.729 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.