A investigadora do Centre for Functional Ecology (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Susana C. Gonçalves, é uma das autoras do artigo científico sobre esta investigação que dá a conhecer “a estranha vida sexual deste cogumelo europeu na Califórnia e ajuda a explicar a rápida disseminação do fungo”.
O cogumelo mortal da espécie Amanita phalloides é originário da Europa, mas foi introduzido inadvertidamente nos Estados Unidos da América (EUA), onde se tem expandido, sobretudo na Costa Oeste.
Intitulado “Invasive Californian death caps develop mushrooms unisexually and bisexually” e publicado na revista Nature Communications, este estudo permitiu “identificar que, na Califórnia, o fungo é capaz de se reproduzir sem parceiro, auto fertilizando-se”.
Segundo Anne Pringle da Universidade de Wisconsin-Madison, EUA, coordenadora e autora sénior do estudo, trata-se de “um tipo invulgar de reprodução sexual em fungos que raramente foi observado fora do laboratório”.
“Esta espécie reproduz-se normalmente de forma bissexuada: as estruturas subterrâneas, o micélio, de dois indivíduos distintos compatíveis fundem-se e produzem cogumelos que contêm ADN de ambos os indivíduos”, explica.
Este tipo de reprodução “ainda acontece na Europa”, tendo a equipa de investigadores sequenciado o ADN de cogumelos da Europa, incluindo várias populações de Portugal, e descoberto que “continham dois conjuntos de material genético, um de cada progenitor”.
No entanto, na Califórnia, onde os cogumelos desta espécie foram observados pela primeira vez no início do século XX, “o fungo parece estar a fazer algo bastante diferente”.
“O ADN de alguns cogumelos da Califórnia continha apenas um conjunto de material genético, indicando que cada um tinha surgido a partir de um único indivíduo. A maneira como o faz não é muito clara”, observam os autores do estudo.
No entender dos investigadores, o Amanita phalloides “contorna, de alguma forma, os controlos genéticos que garantem que os cogumelos só são produzidos depois de dois indivíduos se terem fundido”.
“A capacidade de se auto fertilizar pode ser uma vantagem quando se chega a um novo habitat onde não há parceiros compatíveis”, sustenta Susana C. Gonçalves.
Para os autores do estudo, a unissexualidade pode ajudar a explicar a rápida disseminação da espécie ao longo da Costa Oeste dos Estados Unidos.
“O próximo passo é saber se outras espécies invasoras de fungos estão a usar estratégias semelhantes na natureza”, conclui.
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