“Foi realizada a reconstrução das duas mamas em simultâneo com o tratamento do linfedema (acumulação de líquidos) do braço numa doente com risco aumentado de cancro de mama”, explicou à Lusa a cirurgiã Inês Correia de Sá, sobre esta técnica que o próprio hospital considerou "inovadora".

De acordo com a especialista, esta foi a "primeira vez" que este procedimento simultâneo foi realizado em Portugal.

A técnica foi implementada numa utente previamente submetida a tumorectomia (cirurgia em que apenas é removido o tumor, respeitando a zona de tecido em volta dele) e esvaziamento axilar ganglionar para o tratamento de um cancro de mama.

Mutação genética que aumenta risco de cancro

Segundo explicou Inês Correia de Sá, após este procedimento cirúrgico foi-lhe diagnosticada uma mutação genética que lhe confere um elevado risco de voltar a desenvolver cancro de mama pelo que a utente optou por fazer mastectomia bilateral profilática (extração das duas mamas para diminuição de risco de cancro).

“Como a doente apresentava já linfedema acentuado do membro superior, sem melhoria com o uso de mangas elásticas ou fisioterapia e condicionando elevada limitação motora, optou-se por realizar uma transferência microcirúrgica de gânglios linfáticos localizados na região inguinal para a axila no mesmo tempo cirúrgico em que se realizou a reconstrução mamária bilateral recorrendo a técnicas microcirúrgicas”, esclareceu.

Ambas as técnicas - para reconstrução da mama e a transferência de gânglios linfáticos – “são procedimentos altamente diferenciados e com elevado grau de exigência técnica”, salientou Inês Correia de Sá.

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Acrescentou que “a reconstrução fisiológica com transferência micro vascularizada de gânglios linfáticos é, por si só, uma técnica recentemente desenvolvida e que apenas se realiza rotineiramente em alguns centros diferenciados a nível mundial”.

De acordo com a cirurgiã, com esta intervenção, “é expectável uma melhoria significativa do linfedema, com redução da circunferência do membro superior e das complicações inerentes a esta patologia”.

O linfedema pode chegar aos “50% das doentes tratadas para o cancro da mama”. No entanto, esclareceu Inês Correia de Sá, “esta patologia afeta outros doentes como, por exemplo, pessoas que fazem tratamento de melanoma (cancro da pele)” e pode ocorrer nos braços e nas pernas.

As cirurgiãs responsáveis pelo procedimento, Inês Correia de Sá e Joana Costa, fizeram parte da sua formação cirúrgica em centros de referência em Nova Iorque, EUA, e Gent, na Bélgica, respetivamente.

Inês Correia de Sá disse ainda à Lusa, que com este avanço, o Serviço de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética espera dar resposta no tratamento de doentes de qualquer área do país que sofram de linfedema dos membros superior ou inferior adquiridos no tratamento de tumores, secundários a traumatismos, infeções ou outras causas.