Por toda a Europa, a noite de sexta-feira foi dedicada aos investigadores. Em Portugal, um dos palcos foi o Centro Ciência Viva em Lisboa, mais conhecido como Pavilhão do Conhecimento, que recebeu cerca de 200 investigadores.
Artes marciais, música, escalada, culinária, crochê e, claro, ciência fizeram parte das mais de 60 atividades da noite que se prolongou até às 00:00.
As portas do Pavilhão do Conhecimento abriram pelas 18:00 com um pequeno concerto ao fundo do átrio principal. Até lá, os primeiros visitantes tinham já à sua espera dezenas de expositores sobre os mais variados temas.
Experiências a simular a fermentação ruminal das vacas, biscoitos feitos com algas, observação de fósseis, minerais e células em microscópio, um “jogo da glória” sobre economia circular são apenas alguns dos projetos que os investigadores quiseram mostrar.
Mas, nesta noite dos investigadores, o objetivo da Ciência Viva era, sobretudo, mostrar as pessoas que estão por detrás das batas quando não estão no laboratório.
Foi mais ou menos isso que, durante cerca de uma hora e meia, aconteceu dentro da cozinha do Pavilhão com a investigadora Ana Pina, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier, rodeada de crianças, todas com as mãos na massa.
A tarefa foi fazer “bolachas científicas”, em forma de células ou objetos de laboratório, um passatempo a que Ana Pina se dedicou “para desanuviar” quando terminou o doutoramento em Biotecnologia.
“Na verdade, isto não é muito diferente do que costumamos fazer no laboratório. Planeamos, temos uma receita, misturamos as moléculas e temos um resultado final. Normalmente, não o podemos é comer”, disse à Lusa no final da atividade, envolta no cheiro das bolachas acabadas de sair do forno.
Entretanto, os mais novos já enchiam a barriga com as bolachas que tinham ajudado a fazer. “É a melhor parte”, brincava Duarte, quatro anos, ainda com farinha nos cantos da boca.
O pai, Aníbal Conceição, conta que quando Duarte e os irmãos souberam que iam voltar à Noite Europeia dos Investigadores ficaram muito contentes. “Ainda se lembravam da primeira vez que tinham vindo, no ano passado”, sublinhou.
Do lado de fora da cozinha, no palco do átrio principal, três investigadores também mostravam outro lado seu, mas perante um público sobretudo de graúdos, com quem jogavam o popular “Eu nunca”.
“Eu nunca estraguei equipamento do laboratório” ou “Eu nunca ignorei o GPS porque achava que sabia o caminho”? Não havia inocentes e todos já o tinham feito.
“Achei que me pudesse sentir um bocadinho constrangida no início, mas é bom sairmos da nossa zona de conforto”, explicou uma das investigadoras.
Para Margarida, também é importante, para aproximar a ciência do público, desmistificar a figura dos cientistas e mostrar que são “pessoas normais”, que gostam de desporto, de música, de conviver.
“Tendemos a julgar e a achar que são ‘nerds’, que não saem do laboratório, mas no fundo são como qualquer outra pessoa”, confirmou Carolina Rato, enquanto via o filho a fazer escalada ao lado de Lorenzo Quaglietta, da Associação Natureza Portugal.
Da parte da Ciência Viva, Pedro Russo explicou que o objetivo era, precisamente, mostrar esse lado dos cientistas, porque “a ciência é trabalho, é paixão, mas também há outras paixões” e a organização acredita que essa vertente também acaba por se refletir no trabalho dos investigadores.
Queríamos mostrar ao resto da sociedade que os cientistas são membros dessa sociedade, têm as suas paixões e os seus passatempos, têm uma vida que, se calhar, é muito mais normal do que muitas pessoas imaginam”, explicou.
A pouco mais de uma hora do final da Noite, o membro da direção da Ciência Viva fez um balanço positivo e admitiu que as expectativas foram ultrapassadas, com “casa cheia desde o início”.
Para já, há a certeza de que o Pavilhão do Conhecimento vai repetir a Noite Europeia dos Investigadores no próximo ano, com o tema ainda por decidir.
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