10 de setembro de 2014 - 14h40
O trabalho de divulgação científica junto de crianças bilingues ou com recurso a gelatina ou sumo de maçã valeu à cientista portuguesa Joana Moscoso um prémio da Sociedade de Microbiologia Geral, que será entregue na quinta-feira.
A nomeação "inesperada" para o prémio de Divulgação Científica foi feita pelo chefe de departamento da universidade Imperial College, onde trabalha e onde organizou recentemente um programa de atividades para o público.
"Simulámos um laboratório, mas em vez de químicos e bactérias, usamos gelatina, sumo de maçã ou pasta de dentes para ensinar técnicas elementares da microbiologia molecular", contou à agência Lusa.
Esta ideia mostrou criatividade, mas também permitiu evitar riscos relacionados com o manuseio de alguns dos objetos de investigação dos microbiólogos.
A portuguesa, que se licenciou no Porto, mas fez estudos na Suécia e Austrália, investiga atualmente o que faz certas bactérias resistirem a altas concentrações de sal para tentar compreender melhor como surgem as infeções em ambientes hospitalares.
Mas o prémio da maior organização europeia da Microbiologia reconhece também o trabalho feito nos últimos cinc anos, nomeadamente na Native Scientist, uma organização sem fins lucrativos criada em 2012 com a física Tatiana Correia para combater a exclusão social das comunidades bilingues no Reino Unido, procurando estimular o interesse pelas ciências e pelas línguas maternas.
Começou por trabalhar com crianças lusófonas, mas já alargou a atividade a crianças francófonas e hispanófonas, tendo recebido outras distinções no Reino Unido.
É neste projeto que Moscoso, de 29 anos e natural de Valença do Minho, pretende aplicar as 350 libras (437 euros) que receberá.
"Estamos a tentar que seja financeiramente sustentável. Até agora temos sobrevivido com prémios, mas precisamos de mais apoios", confessou.
Desde a chegada a Londres, em 2009, Joana Moscoso esteve envolvida na Associação dos Investigadores e Estudantes Portugueses no Reino Unido (PARSUK) e na organização do Luso, o Encontro Anual de Investigadores e Estudantes Portugueses no Reino Unido.
"No início, há quatro anos, não dizia a ninguém porque não queria que pensassem que, se tivesse maus resultados, era por causa de estar a fazer outras coisas fora do trabalho. Mas agora já estou mais segura de que é possível ser investigadora e empreendedora", admitiu.
Porém, Joana Moscoso garante: "Sou muito disciplinada com o tempo de trabalho. A divulgação científica é um hobby, que faço no meu tempo livre".
Por Lusa