Maria Manuel Mota, investigadora do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Medicina de Lisboa, salientou o facto de a academia sueca ter premiado investigação sobre doenças que, hoje em dia, não são muito valorizadas no mundo ocidental mas que nos países mais pobres provocam centenas de milhares de mortes.

A academia sueca distinguiu na segunda-feira os investigadores norte-americano William C. Campbell e japonês Satoshi Omura, pela descoberta de uma nova terapia para combater doenças parasitárias, e a chinesa Youyou Tu pela investigação sobre um novo fármaco, igualmente inovador, que permitirá, nos próximos anos, com bater eficazmente a malária.

"É um prémio maravilhoso para a investigação sobre estas doenças, que não afetam o dia-a-dia no Ocidente, que não são globais, mas que incidem fortemente nos países menos desenvolvidos", afirmou a parasitologista portuguesa, aludindo ao novo medicamento, Artemisinin (desenvolvido a partir de ingredientes usados na medicina tradicional chinesa), que tem reduzido significativamente a taxa de mortalidade em doentes com malária.

Fármaco com os dias contados

No entanto, lembrou, o novo fármaco "terá os dias contados", pois a resistência ao medicamento por parte dos portadores acabará por prevalecer daqui a alguns anos, razão pela qual se deve continuar a apoiar financeiramente as investigações futuras, sobretudo em "doenças negligenciadas", como é o caso.

"Não podemos esquecer, por exemplo, a questão das atuais migrações para a Europa, que podem trazer novos problemas sanitários. Nunca se sabe, pelo que será necessário haver a disponibilização de mais fundos para prosseguir com as investigações", frisou Maria Manuel Mota, alertando que há ainda muito a fazer para erradicar o mosquito transmissor da malária.

Mais de 3.400 milhões de pessoas que residem nas zonas mais vulneráveis são potenciais infetados com malária, que, todos os anos, mata mais de 450 mil pessoas, na sua maioria crianças.

Já sobre a distinção à dupla de cientistas norte-americano e japonês, a parasitologista portuguesa disse-se "pouco à vontade" - "não é a minha área" - para comentar, salientando, porém, que o novo tratamento para a cegueira dos rios e para a elefantíase, é também "maravilhoso" pelas mesmas razões.

A maioria dos parasitas, que se estima afetar um terço da população mundial, tem uma prevalência particular na África Subsaariana, sul da Ásia e nas Américas Central e do Sul.

Na pior das hipóteses, a Cegueira dos Rios (Onchocerciasis) leva a perda total da visão, devido à crónica inflamação da córnea. A Filariose Linfática (elefantíase), por sua vez, afeta mais de 100 milhões de pessoas e provoca inchaços crónicos e engrossamento da pele e de tecidos adjacentes.