O projeto no qual participa o investigador da Fundação Champalimaud, que hoje divulgou a proposta de trabalho, vai receber uma bolsa de 525 mil dólares (cerca de 500 mil euros) da Iniciativa Chan Zuckerberg, criada pelo cofundador da rede social Facebook Mark Zuckerberg e pela mulher, a pediatra Priscilla Chan.

É a primeira vez que um cientista português beneficia de uma bolsa desta iniciativa filantrópica, que "aposta na tecnologia para ajudar a resolver alguns dos mais difíceis desafios do mundo", como a erradicação de doenças, refere em comunicado a Fundação Champalimaud.

A bolsa em causa financia projetos-piloto focados na área da inflamação e realizados por equipas de dois a três investigadores de diferentes especialidades.

Além de Henrique Veiga-Fernandes, participam no projeto Isaac ​​​​​​Chiu e Stephen Liberles, da Harvard Medical School, nos Estados Unidos, que trabalham nas áreas de neuroimunologia e neurociências.

Em declarações à Lusa, Henrique Veiga-Fernandes, investigador do laboratório de imunofisiologia e codiretor científico da Champalimaud, disse que a equipa vai "aplicar uma nova tecnologia criada e desenvolvida" no seu laboratório "para desvendar a forma como os sistemas nervoso e imunitário dialogam entre si em doenças inflamatórias e infecciosas pulmonares".

Henrique Veiga-Fernandes explicou que, num estudo anterior, o seu grupo de trabalho verificou que os neurónios (células) do sistema nervoso periférico comunicam com as células inatas linfoides e os linfócitos T (células imunitárias) através de substâncias químicas chamadas neurotransmissores.

"Essa informação ou comando é então utilizada pelas células imunitárias para, por exemplo, combater uma infeção", descreveu.

A tecnologia experimental concebida no laboratório de Henrique Veiga-Fernandes, chamada KISS (beijo), vai ser testada em ratinhos para avaliar "o grau de 'intimidade' que se estabelece entre células nervosas e imunitárias no pulmão". As interações entre estas células vão ser estudadas designadamente na gripe.

A análise poderá, no entanto, ser alargada "a outras famílias de vírus que se venham a revelar importantes neste contexto, nomeadamente membros da família dos coronavírus", admitiu à Lusa Henrique Veiga-Fernandes, sem especificar.

O investigador esclareceu que a plataforma tecnológica KISS permitiu, através da engenharia genética, alterar células imunitárias para que "possam transmitir informação aos neurónios que com elas estabeleceram interações, 'a fase do beijo'".

Esta troca de informação "marca os neurónios intervenientes com uma proteína de cor fluorescente que, depois, pode ser visualizada com microscopia de ponta".

"A visualização vai dar-nos um mapa tridimensional e funcional da arquitetura dos circuitos neuroimunes, no caso concreto no pulmão", precisou o investigador da Fundação Champalimaud.

Segundo Henrique Veiga-Fernandes, "a avaliação da arquitetura neuroimune poderá vir a desvendar novos alvos terapêuticos para doenças virais do pulmão".

O projeto combina técnicas de genética molecular, imagiologia e vetores virais (vírus manipulados geneticamente) e será concretizado, na fase piloto, num período máximo de dois anos.