As cefaleias (dores de cabeça) são a mais frequente doença cerebral, estimando-se que uma em cada sete pessoas tenham um episódio de enxaqueca em algum momento da sua vida, segundo dados da Federação Mundial de Neurologia.

A importância da chamada de atenção para esta doença relaciona-se também com a grande incapacidade temporária que provoca, o baixo grau de reconhecimento da doença e de pedido de ajuda pelos doentes que muitas vezes suportam as dores de cabeça com resignação, sendo assim diminuta a taxa de diagnóstico e tratamento destes doentes.

Consequentemente, também os recursos médicos e de investigação são escassos comparados com outras doenças cerebrais como por exemplo os recursos que são alocados às doenças neurodegenerativas.

Mas o que é o cérebro?

O cérebro é um conjunto de estruturas nervosas que todos os vertebrados possuem, que se encontra protegido pelos ossos do crâneo e na proximidade dos órgãos dos sentidos como a visão, o paladar, a audição ou o olfato.

Do ponto de vista biológico, é o responsável por praticamente todos os comportamentos humanos, usando um sofisticado sistema de controlo que integra a informação sensorial que recebe, transformando-a em respostas adaptativas que servem o bem-estar e a sobrevivência, comandando músculos e glândulas que produzem hormonas de acordo com as suas ordens.

Do ponto de vista filosófico, ao cérebro são atribuídas funções mentais como por exemplo o pensamento, a inteligência ou o conhecimento.

Como se relaciona a estrutura do cérebro com as suas funções?

O cérebro possui uma estrutura macroscópica (hemisférios cerebrais) e microscópica (células cerebrais) e também, apesar de menos conhecida, uma importante rede arterial que suporta e interage constantemente com as células neuronais e gliais.

O cérebro humano é o órgão com maiores necessidades energéticas e, apesar de representar apenas 2% da massa corporal, é o responsável por 25% do consumo de sangue circulante e dos seus nutrientes. As células cerebrais (neurónios e células gliais) especializaram-se em comunicação e não possuem recursos energéticos para a sua manutenção dependendo completamente do sangue para os obter.

Assim se compreende que qualquer interrupção no fornecimento de sangue ao cérebro provoque de imediato sintomas e se o problema não se resolver muito rapidamente não se poderão evitar lesões para sempre.

É isto que acontece nos AVC (acidentes vasculares cerebrais) isquémicos, grande causa de internamento urgente e morte em Portugal.

O cérebro possui dois hemisférios, direito e esquerdo com funções diferentes, sendo tradicionalmente atribuído ao hemisfério direito atividades como o pensamento simbólico e a criatividade e ao esquerdo outras como o pensamento lógico e a comunicação oral. Do ponto de vista do controlo motor o hemisfério esquerdo controla o lado direito e vice-versa.

O córtex cerebral é a camada mais externa dos hemisférios cerebrais e contém áreas funcionais, isto é, zonas que coordenam diferentes regiões do corpo. Estes "mapas" à superfície do cérebro ajudam-nos a localizar as lesões motoras ou sensitivas pois cada zona corresponde por exemplo à força ou sensibilidade da mão, braço, perna, tronco ou à boca e língua. Assim uma lesão nesses locais afeta a força ou a sensibilidade nessa área corporal.

Uma parte da glândula hipófise e o hipotálamo também fazem parte do cérebro dedicando-se ao controlo da homeostasia, ou seja, à regulação dos nossos órgão internos e secreções, permitindo assim o controlo cerebral da função respiratória, circulatória, níveis de hidratação ou da temperatura corporal.

Qual é a função do cérebro ?

A função do cérebro é a de coordenar as informações dos órgão sensoriais, processá-las, e combinando-as com informações que tem na sua memória, escolher a melhor resposta que o nosso organismo pode dar a uma determinada necessidade. Para efetivar uma resposta pode usar o controlo da atividade motora, da homeostase, dos ritmos circadianos, ou ainda a motivação, a memória ou a aprendizagem, alterando as suas respostas em função da experiência prévia modificando assim o seu padrão de resposta com a aprendizagem.

A saúde do cérebro pode promover-se?

O cérebro é como um sistema operativo para o corpo e os dois devem trabalhar em conjunto para nos mantermos saudáveis. A relação cérebro-corpo é uma relação em dois sentidos, sendo que a uma melhor performance cognitiva corresponde a um melhor balanço cérebro-corpo.

Assim o cérebro necessita de ser recarregado e depende de um bom ritmo de sono, de descanso e alimentação para se manter em boa atividade. A memória, a atenção ou a capacidade de decisão são afetadas pela ausência de descanso corporal, maus hábitos alimentares ou privação de sono.

Um artigo da médica Isabel Lestro Henriques, doutorada e especialista em Neurologia.