“A Ordem dos Médicos vai responsabilizar o ministro da Saúde [Adalberto Campos Fernandes] pela segurança clínica dos doentes e dos médicos, instando o Governo a resolver rapidamente a situação e pedindo a intervenção dos deputados da Assembleia da República”, afirmou o bastonário, em comunicado enviado à agência Lusa.

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Para o responsável da Ordem dos Médicos (OM), o risco de rotura da Urgência Pediátrica do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), devido à falta de especialistas, “é mais uma das muitas faces visíveis do desinvestimento a que tem sido sujeito o Serviço Nacional de Saúde (SNS) na última década”. “Dificuldades que se acentuam nas unidades de Saúde das regiões do interior”, lamentou.

Miguel Guimarães reagia ao documento, divulgado na segunda-feira e assinado por 21 dos 22 pediatras do HESE (apenas não assinou um que está de baixa), em que os médicos alertam para o risco de rotura da urgência e dão conta do seu “descontentamento com as condições de trabalho e de assistência” existentes na unidade.

Equipa exausta e envelhecida

“Temos atualmente uma equipa exausta, envelhecida, insuficiente para assegurar as necessidades do serviço” e que “trabalha para além dos limites legais e humanamente razoáveis”, avisam os pediatras, frisando: “A escala de Urgência de Pediatria está atualmente em rotura”.

Segundo os médicos, a carência de especialistas faz com que a Urgência esteja “sem possibilidade de assegurar a totalidade dos dias” de escala, arriscando-se a ficar, “já este mês”, com “períodos de 12 horas sem pediatra”.

Os clínicos, que também criticaram às instalações da Urgência Pediátrica, enviaram a tomada de posição para o conselho de administração do HESE, Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, OM, Sindicato Independente dos Médicos e Federação Nacional dos Médicos.

A OM, lembrou Miguel Guimarães, tem alertado que, “em muitas unidades de Saúde, as escalas de serviço só são asseguradas graças ao esforço e dedicação” dos médicos e a denúncia dos pediatras de Évora é “o resultado da exaustão em que muitos” se encontram.

Perante os problemas na urgência deste hospital alentejano, o bastonário lamentou que, no recente concurso nacional para a colocação de especialistas, “apenas esteja prevista uma vaga para cirurgia pediátrica” no HESE e não esteja “contemplada qualquer vaga para a especialidade de Pediatria”.

“Não se percebe que o Ministério da Saúde não tenha procurado reforçar uma unidade claramente carenciada, quando se sabe que um terço do quadro médico deste hospital já não faz serviço de urgência”, por ter chegado ao limite de idade ou por integrar a Urgência da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, criticou.

Na segunda-feira, em declarações à Lusa, o presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo, José Robalo, disse que, como solução “imediata” e de “curto prazo”, o HESE vai “tentar” contratar mais pediatras em regime de prestação de serviços para impedir a rotura da urgência.

Para o bastonário da OM, esta “apenas pode ser encarada como uma solução temporária para evitar a rotura do serviço enquanto não são contratados especialistas para os quadros do hospital”.

Miguel Guimarães criticou ainda as “instalações desadequadas” da urgência, “deficiências que a tutela tem ignorado, apesar das sucessivas queixas e alertas dos médicos especialistas”.