“Nós estamos bastante indignados com a situação que o evento pode trazer com muitas pessoas a afluir ao Seixal”, explicou à Lusa Sónia Alves, uma das organizadoras do movimento “Seixal Sim Covid Não”, constituído por moradores do concelho.
A marcha é “apartidária” e vai iniciar-se pelas 18:00 no Complexo Desportivo Carla Sacramento, terminando na rua Infante D. Augusto, na Amora, a freguesia onde também se vai realizar o evento comunista, entre 04 a 06 de setembro.
“Temos estado atentos ao 'feedback' das pessoas da Amora e estão bastante indignadas. Umas vão optar por sair das suas casas durante esses dias e outras vão ficar privadas da liberdade por questões de segurança e cautela, portanto, além de criar um sentimento de preocupação à saúde pública, também cria um sentimento de injustiça nas pessoas”, apontou a responsável.
Neste sentido, Sónia Alves explicou que o movimento decorrerá apenas em automóvel “exatamente para acautelar o que reivindicam, a saúde pública”.
“Não faria sentido fazermos uma marcha pedonal, se estamos a defender a saúde pública do concelho, não podemos criar outro aglomerado de pessoas. Assim garante-se que há o distanciamento necessário e as pessoas podem manifestar-se na mesma”, mencionou.
Além disso, quem não puder participar neste formato, indicou, pode sempre “fazê-lo dentro das suas casas, indo à janela e colocando um pano ou um adorno de cor negra, como forma de mostrar a sua indignação”.
No entanto, Sónia Alves aproveitou para frisar que os moradores “não estão contra a festa”, mas sim contra a opção de a concretizar este ano em que vivemos a pandemia da COVID-19.
“As próprias pessoas, os residentes do concelho da Amora, já foram frequentadores e eu própria participei durante 18 anos. Era sempre um evento alegre, com cultura e tudo o que é descrito pelo Partido Comunista Português (PCP), mas temos que perceber que estamos num contexto muito delicado da saúde pública”, defendeu.
Na sua visão, o PCP devia ter “alguma humildade perante esta situação” e devia “deixar um bocadinho a política de parte”.
“Os argumentos são sempre os mesmos de que as pessoas estão contra a festa e que é uma perseguição política, mas é injusto fazerem-se este tipo de acusações quando vemos todos os dias no jornais pessoas que morrem com esta doença, as consultas que vão ficando para depois ou a sobrecarga do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, apontou.
Aliás, referiu, os moradores estão preocupados que surja um foco de COVID-19 no Seixal, que é servido pelo Hospital Garcia de Orta, juntamente com o concelho vizinho de Almada, no distrito de Setúbal, onde já existem “várias dificuldades estruturais”.
Na página do movimento na rede social Facebook, até à tarde de hoje, cerca de 90 pessoas mostraram interesse em participar na marcha lenta e 27 marcaram que vão participar.
Também mais de 40 comerciantes da zona envolvente à Quinta da Atalaia, na freguesia de Amora, afirmaram no domingo que vão encerrar os seus estabelecimentos durante a Festa do Avante! por “precaução” e para “mitigar o risco de contágio” pelo novo coronavírus.
Devido à pandemia da COVID-19, a 44.ª edição da Festa do Avante! conta este ano com um terço da lotação (33 mil pessoas).
No entanto, na segunda-feira, a da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgou um parecer onde determinou uma lotação máxima de 16.563 pessoas em simultâneo no recinto da festa.
No mesmo dia, o PCP divulgou um Plano de Contingência, onde definiu que este ano o evento só vai ter lugares sentados nos diversos espetáculos, o uso de máscara será obrigatório nos “espaços assinalados” e “nos recintos dos espetáculos não será permitido o consumo de bebidas alcoólicas”.
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