Segundo o relatório “Infeção VIH e sida” relativo a 2017, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), observou-se um aumento de 29% no número de casos em casos de homens que fazem sexo com homens, que desde 2015 são em número mais elevado que os registados relativos a homens heterossexuais.

A ministra da Saúde, Marta Temido, já reagiu à notícia e diz que o facto de o foco da infeção por VIH estar a passar de um determinado grupo populacional para outro vai obrigar o Governo a adaptar as respostas atuais.

Os 16 sintomas mais comuns do VIH/Sida
Os 16 sintomas mais comuns do VIH/Sida
Ver artigo

Em declarações à agência Lusa, a vice-presidente da Abraço, Cristina Sousa, afirmou que estes números não são “uma surpresa”, adiantando que “o investimento que está a ser feito nos últimos anos nesta população ainda precisa de ser mais analisado”.

Intervir neste grupo

Por conseguinte, defendeu, tem de se intervir neste grupo em específico, um trabalho que já está a ser feito pela Abraço e pela Direção-Geral da Saúde. “Realmente tem-se verificado um número crescente de infeção VIH nesta população e tem-se intervindo junto delas através do rastreio, mas também com a introdução agora da PREP [profilaxia pré-exposição do VIH] que será visto mais como um método preventivo de forma a tentarmos controlar a doença nesta população”, salientou.

Cristina Sousa adiantou que esta população sempre “ouviu falar muito mais” de sida, porque é uma doença que, desde o seu início, está associada à população homossexual.

8 curiosidades sobre os efeitos do sexo no cérebro
8 curiosidades sobre os efeitos do sexo no cérebro
Ver artigo

Por esta razão, mais facilmente a assume como uma doença crónica e, “apesar de todos os receios que possa ter em relação a contrair a doença”, percebeu que há outras formas de a prevenir. A PREP veio ajudar a que não haja novos casos de infeção nesta população que “rejeita muito o preservativo” e ao fazê-lo acaba por correr maior risco”.

Para Cristina Sousa, este medicamento foi um passo importante no combate à doença e os números do INSA vêm provar isso. “Não podemos fugir a esta realidade e temos que encontrar outros métodos preventivos para conseguir controlar e colmatar a situação presente”.

Advertiu, no entanto, que os homens que fazem sexo com homens não são diferentes do “resto da população que não usa preservativo”, considerando que a grande preocupação está na população em geral. “O heterossexual continua a considerar que é uma infeção de grupos específicos, que é algo que não lhe acontece a ele, e estes dados do INSA podem dar a entender a um leigo mais uma vez isto, mas não é verdade”.

10 mitos comuns sobre sexo esclarecidos por uma médica
10 mitos comuns sobre sexo esclarecidos por uma médica
Ver artigo

Em Portugal, “continuamos a não encontrar os diagnósticos tardios”. Os novos casos que aparecem na faixa etária dos 25/40 anos são “infeções recentes na população de homens que fazem sexo com homens que procuram o teste assim que sabem que têm um comportamento de risco”. “O que nos continua a falhar em Portugal é detetar aqueles que não sabem que estão infetados” e, “na minha opinião, esses estão na população em geral, no grupo dos heterossexuais, que desconhecem o seu estado serológico há cinco, dez anos” e continuam a não se proteger e a infetar.

O relatório do INSA adianta que mais de mil novos casos de infeção por VIH surgiram em Portugal no ano passado, sendo o grupo etário entre os 25 e os 29 anos o que teve taxa mais elevada de novos diagnósticos. No ano passado registaram-se 261 mortes em pessoas com VIH, 134 delas em estádio sida, a fase mais avançada da infeção. A idade mediana à data da morte foi de 52 anos.