Cerca de 200 centros de saúde estão a funcionar, desde o final de novembro, com horários de atendimento alargado (dias úteis) ou complementar (fim de semana e feriados), disponibilizando uma resposta de proximidade à comunidade em situações de saúde não emergente, no âmbito do Plano Estratégico de Saúde para o inverno.
Fazendo hoje um balanço desta medida, o presidente da Associação Portugueses de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto, disse que este atendimento está a ser feito pelos profissionais dos cuidados de saúde primários, que sofrem de “uma falta de recursos crónica”.
Isto significa, adiantou, que “vão ter que trabalhar mais, fazer horas extraordinárias e ter que dedicar uma fatia maior do seu horário de atendimento da doença aguda”.
“Em muitas das unidades já foi preciso reajustar horários, muitas vezes até desmarcando alguma da atividade programada de vigilância e de prevenção de outros utentes, doentes crónicos e grupos vulneráveis para dar resposta à doença aguda tal é a procura”, disse, elucidando que há unidades que duplicaram a sua capacidade de resposta em relação àquilo que tinham planeado.
Disse, contudo, que “não é totalmente transparente” se está registar-se alguma diminuição do recurso às urgências hospitalares.
“O que nós vemos é que as urgências hospitalares andam sempre com um número mais ou menos constante, elevado, entre os 15 mil e os 20 mil episódios de urgência por dia, e isso não tem uma relação direta com o número de consultas que estão a ser feitas de forma não programada nos cuidados de saúde primário”, salientou.
Nesse sentido, frisou: “não podemos assumir que a responsabilidade das urgências estarem cheias é dos centros de saúde porque não é. O que verificamos é que mesmo quando os centros de saúde estão a dar essa resposta, o reflexo que existe a nível das urgências é pouco, acaba por ter pouco impacto e os números, que são públicos, são oficiais, traduzem isso mesmo”.
O responsável explicou que o que se passa é que Portugal continua a ter um sistema de urgência que permite “a ida direta” do doente sem qualquer tipo de referenciação, sem contacto com o SNS 24 ou o médico de família.
Para ultrapassar esta situação, advogou que tem que ser pensado “um funcionamento em rede diferente”, em que a responsabilidade não esteja sempre a ser colocada no centro de saúde, mas que se consiga criar percursos alternativos até a nível do próprio hospital.
Defendeu que tem que haver a possibilidade dos doentes crónicos terem “uma porta de acesso diferente ao hospital” quando necessitam, uma consulta aberta hospitalar, um hospital de dia para determinadas situações, “que muitas vezes não acontece”, aumentar a capacidade de hospitalização domiciliária e de apoio domiciliário dos próprios hospitais.
“Claro que, neste caso, os hospitais precisam também de recursos que não os têm e infelizmente a aposta tem sido sucessivamente colocar os médicos, os enfermeiros no serviço de urgência, alimentando este serviço e deixando tudo o resto para trás”, criticou.
No seu entender, também é preciso “uma forte aposta” na educação para a saúde, “num funcionamento forte do SNS24”, que tem um papel importante até na promoção dos autocuidados.
“Se não fizermos esta utilização adequada de todos estes níveis de cuidados e se esgotarmos a capacidade de resposta, quer dos centros de saúde, quer dos hospitais, não vamos conseguir atuar quando verdadeiramente somos necessário”, avisou Nuno Jacinto.
Alertou ainda para a necessidade de arranjar uma solução para os utentes que procuram os centros de saúde para justificar a falta no trabalho por uma doença que não justifica uma observação médica.
Lembrou que na época da covid-19, era possível, através do SNS 24, ter a declaração de isolamento que permitia justificar as faltas de forma automática, uma prática que iria reduzir a carga burocrática nos centros de saúde.
“Obviamente, tem de haver coordenação entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Segurança Social, mas é algo que tem que ser pensado e que tem que ser trabalhado”, defendeu.
Comentários