HealthNews (HN)- O Acidente Vascular Cerebral continua a ser a principal causa de morte e incapacidade em Portugal. A falta de literacia em saúde pode explicar esta realidade?

Ana Paiva Nunes (APN)- Sem dúvida. Nesse sentido, a Portugal AVC desenvolveu um projeto importante, chamado ‘AVC vai à Escola’, o qual é coordenado pela Dra. Ana Alves. Esta iniciativa tem como principal objetivo combater a deficiência que existe sobre o conhecimento da população relativamente a esta patologia.

Um grupo de profissionais de saúde e sobreviventes de AVC faz, em escolas selecionadas, uma sessão informativa onde são explicadas as causas da doença, os sinais de alerta e partilhada a história de um sobrevivente que conta quais foram as suas dificuldades e sequelas. As sessões são feitas em vários níveis de ensino… A mais recente que fiz foi no sétimo ano. É muito gratificante ir às escolas e ter esta relação com as crianças e jovens.

HN- O facto de doenças como a diabetes, a obesidade, a hipertensão arterial e as doenças cardíacas serem cada vez mais prevalentes poderá estar relacionado com o elevado número de episódios de AVC?

APN- Claro que sim, todas estas doenças são fatores de risco para o Acidente Vascular Cerebral. Por isso é que consideramos que só com uma estratégia nacional de ensino é que se consegue mudar hábitos, modificar atitudes e fazer com que as pessoas tenham mais literacia em saúde, já que em Portugal é muito pouca.

HN- Acredita que através do “Plano de Ação para o AVC na Europa” será possível alcançar a melhoria “em todos os momentos que envolvem cuidados ao AVC”?

APN- Este plano compromete o nosso país a prestar melhores cuidados… Em primeiro lugar porque o plano tem como ambição que mais de 90% dos doentes com AVC seja internado numa unidade de AVC. Esse internamento faria com que o doente fosse posto num contínuo de cuidados que só acaba na vida após AVC. Serviria como uma via que incluiria, não só os cuidados de fase aguda, mas também a reabilitação que depois se prolonga quando o doente recebe alta médica.

Em último lugar porque este plano exige que Portugal forneça indicadores…

HN- A Portugal AVC lançou recentemente um alerta para a importância da reabilitação coordenada, multidisciplinar e atempada após AVC. Como classifica a resposta que é dada aos sobreviventes de AVC a nível nacional?

APN- A resposta de reabilitação que é dada aos sobreviventes é muito má. A resposta é muito inferior àquilo que os doentes precisam. Enquanto na terapêutica de fase aguda conseguimos ter respostas “boas”, do ponto de vista da reabilitação estamos ainda muito aquém daquilo que seria desejável.

HN- O AVC e o ataque cardíaco é muitas vezes confundido pelos doentes. Como se reconhece o Acidente Vascular Cerebral?

APN- Os sintomas e o tratamento são diferentes. São duas emergências, mas uma manifesta-se por dor no peito e a outra resulta de uma oclusão de uma artéria do cérebro.

Esta confusão resulta devido à falta de literacia em saúde. Estamos a falar de duas emergências diferentes que ocorrem em locais diferentes do nosso corpo.

HN- A toma diária da aspirina para vítimas e AVC e enfarte tem estado recentemente no centro do debate. Qual o seu papel na redução do risco de acidentes cardiovasculares?

APN- O Acidente Vascular Cerebral e os enfartes são causados por diferentes doenças e, dependendo das características de cada doente, pode ter indicação para fazer aspirina ou não; para fazer um anticoagulante ou não… Nunca se pode discutir este tema na generalidade.

HN- Alguns estudos internacionais dão conta de um aumento de aproximadamente 20% da incidência de AVC durante o inverno. Que cuidados devem ser tidos agora que se aproxima a época de frio?

APN- Embora ainda não se saiba como vai ser este inverno por causa da pandemia… Sabemos que as infeções virais aumentam o risco de haver tromboses, portanto aquilo que as pessoas devem fazer é proteger-se com as medidas habituais de higiene e ter um cumprimento absoluto dos medicamentos que têm de tomar.

HN- Gostaria de deixar alguma mensagem especial para o Dia Mundial do AVC?

APN- Gosto sempre de voltar a relembrar os sinais de altera, uma vez que o prognóstico dos doentes está claramente dependente da rapidez com que são tratados e, por isso, é fundamental saber que boca ao lado, dificuldade em falar e falta de força num braço são sinais de AVC. Nesses casos a atitude a tomar é entrar em contacto com o 112 e não deslocar-se ao hospital pelos seus próprios meios.

Entrevista de Vaishaly Camões