O conceito das “alterações climáticas” refere-se a uma mudança nos padrões de temperaturas sazonais, chuvas, secas, ventos, sendo frequentemente associada a desastres naturais. Ultimamente este tópico tem sido considerado “quente” não só pela contemporaneidade e mediatismo, mas também, e principalmente devido ao à mudança de padrão associado ao fenómeno do aquecimento global.

O aquecimento global e as ondas de calor aumentam o risco de doenças cardiovasculares, incluindo a mortalidade cardiovascular. O ritmo de subida de temperatura tem estado em crescente (comparativamente com o período prévio à revolução industrial) e mantendo o padrão espera-se um incremento de 1,5°C é nas próximas décadas. Manter o aumento da temperatura global abaixo do limiar de 1,5ºC (comparativamente com o período prévio à revolução industrial) poderá prevenir múltiplas catástrofes ambientais/climáticas e também complicações relacionadas com a saúde, incluindo eventos e mortes cardiovasculares. Os mecanismos de doença conjeturados são variados, contudo esta elevação da temperatura que aparenta ser modesta na magnitude (de momento <1,5ºC), está associada a muitos intenso eventos de condições climatéricas extremas como as ondas de calor cuja frequência global aumentou.

O aquecimento global está associado ao aumento da produção e emissão de gases poluentes que promovem o efeito estufa, situação esta que pode potenciar a ocorrência de eventos cardiovasculares quer pelas alterações climáticas, quer pelo efeito direto e/ou indireto dos gases e partículas poluentes nos vasos sanguíneos.

Reconhecendo esta relevante contribuição da poluição do ar para a morbi-mortalidade associada ao ambiente e com importância crescente nos ultimos anos, em 2015 foi obtido o Acordo de Paris cujo objetivo é a obtenção de neutralidade nas emissões de carbono e uma política de carbono zero em meados deste século.

Optimisticamente, perspetiva-se que estas medidas poderão melhorar a saúde global, incluindo a saúde cardiovascular limitando a subida da temperatura e reduzindo a exposição a poluentes. 

Não sendo um aspeto de saúde individual abordável em consultas médicas, é essencial juntar equipas multidisciplinares para discutir esta temática que tem impacto na saúde de todos. O Fórum da Sociedade Portuguesa de Cardiologia que irá decorrer no dia 10 de Fevereiro de 2023, no Centro Cultural de Belém, juntará um conjunto de peritos numa reflexão que é urgente e que interessa a todos.

Um artigo de Daniel Caldeira, Cardiologista e Professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.