O termómetro atingiu os 35ºC negativos em algumas regiões do centro da Federação Russa no domingo, 12ºC negativos na Polónia ou ainda 10ºC negativos no leste da França.
Nos últimos quatro dias, pelo menos 20 pessoas morreram na sequência da vaga de frio siberiano que se abateu sobre a Europa.
Durante este tempo, o Polo Norte, mergulhado na escuridão permanente da noite polar, registava temperaturas positivas graças a vagas de ar ameno.
Existe "uma situação de bloqueio anticiclónico no norte da Escandinávia (...) com uma subida de ar ameno da Islândia para o Polo Norte de um lado e o anticiclone do outro, descida de ar frio do Ural e da Rússia ocidental para a Europa ocidental", disse à agência AFP um meteorologista da Meteo-France, Etienne Kapikian.
Em resultado, "estima-se que ao nível do Polo Norte estão zero graus", indicou Kapikian, segundo estimativas feitas com modelização, porque não há estação meteorológica instalada no local.
Mais quente na Gronelândia do que em Bragança
Para ter uma medida mais precisa, é preciso ir ao extremo norte da Gronelândia, "onde se registaram 6,2ºC no domingo", acrescentou Kapikian. "É um valor excecional, cerca de 30ºC acima do que é normal para a época, mesmo 35ºC dada esta medida tão precisa", acentuou. É este um episódio excecional? Sim, mas nem tanto, respondem os cientistas.
"Temperaturas positivas no Polo Norte no inverno foram registadas quatro vezes entre 1980 e 2010 (...). Mas agora ocorreram em quatro dos últimos cinco invernos", disse à AFP o climatologista Robert Graham, do Instituto Polar Norueguês.
"Tivemos um inverno excecional no Ártico, o precedente também já tinha sido e não arriscamos muito se dissermos que o próximo também vai ser (...). É o aquecimento do Ártico", reforçou Etienne Kapikian.
Será que se pode atribuir esta situação às alterações climáticas?
"É difícil dizer que um acontecimento está ligado ao aquecimento global. Mas esta tendência que observamos, um Ártico quente, um continente frio, pode estar ligada às alterações climáticas", respondeu Marlene Kretschmer, climatologista no Instituto de Potsdam para a investigação sobre as alterações climáticas.
Estes episódios de subida das temperaturas não são uma boa notícia para o gelo do Ártico, cuja superfície nunca foi tão reduzida nesta época desde o início dos registos, há mais de 50 anos.
Em torno do arquipélago norueguês de Svalbard, a leste da Groenlândia, a superfície de gelo medida na segunda-feira era de 205.727 quilómetros quadrados, seja menos de metade da superfície média do período 1981-2010, segundo os registos noruegueses.
De forma global, os climatologistas consideram provável ver o Oceano Ártico sem gelo no verão até 2050.
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