HealthNews (HN) – O Hospital de Braga implementou um sistema de Alta Centralizada no passado dia 9 de outubro. Em que consiste?

Fátima Faria – Verificámos que, no Hospital de Braga, estávamos com uma taxa de ocupação superior a 95%. Também verificámos que entre o momento em que é dada alta clínica e o momento em que o doente sai do hospital há um período de duas horas e meia, e às vezes prolonga-se ainda mais. Temos uma cama ocupada com um doente que poderia estar em casa a impedir a entrada de doentes que estão à espera na urgência, em situações que em termos de conforto não serão as melhores. Mesmo em termos de entrada de doentes em bloco operatório, poderá até originar cancelamentos por falta de camas.

Olhando para essas situações e para o constrangimento que provocam, ainda mais nesta altura do ano, com maior fluxo de entrada de doentes pela urgência, pensámos em ter aqui um espaço que tivesse as mesmas condições de conforto e de vigilância, sendo que os doentes, tendo alta, não serão de grande vigilância, mas mesmo assim fazemos questão que estejam acompanhados.

Tivemos a abertura de um espaço que dá para 15 doentes em simultâneo, mas que até pode ser alargado se a situação assim o exigir, e onde temos uma equipa dedicada de enfermeiros e assistentes operacionais. O que acontece é que estes doentes que saem tardiamente do hospital, porque a família não pode vir buscá-los (porque trabalha, porque às vezes é difícil conciliar os horários), ou porque estão à espera de transporte, nomeadamente ambulância, ficam num espaço confortável. Portanto, o doente está no internamento, o médico observa-o e dá-lhe alta, prepara toda a parte burocrática, e o doente é transferido para esta área. Nesta área, os enfermeiros continuam aquilo a que chamamos preparação da alta, que neste período antes da alta consiste em explicar como devem ser tomados os medicamentos, cuidados a ter em casa e esclarecer dúvidas que a família ou o doente tenham.

Isso permite que o serviço de internamento tenha esta cama liberta mais cedo e consigam prepará-la, porque depois de o doente ter alta tem que ser higienizada, desinfetada, preparada para receber um novo doente.

HN – Até 14 de dezembro, passaram pela Alta Centralizada 449 utentes.

FF – Que originou cerca de 1068 horas em que o internamento está livre para receber doentes.

HN – Como surgiu a ideia e porquê agora?

FF – Esta ideia surgiu tendo em conta a análise que foi feita durante este ano de 2023, olhando para a diferença entre a alta clínica e a alta administrativa, que é o momento em que o doente sai do hospital. Portanto, tendo uma taxa de ocupação acima dos 95% e esses constrangimentos dos doentes que têm alta, tendo em conta as admissões diárias que nós temos – nós, em média, temos 33 para intervenções cirúrgicas ou exames programados que requerem internamento –, e agravado por este período em que há uma maior afluência à urgência, com maior necessidade de internamentos. Por outro lado, também temos muita dificuldade em libertar camas de doentes que estão a aguardar a Rede Nacional de Cuidados Continuados. Mesmo os casos sociais, que é uma situação que se tem vindo a agravar, estão a ocupar uma cama que não necessitam.

HN – Nota-se a preocupação com a humanização dos cuidados, tanto daqueles que são recebidos como daqueles que vão deixar o hospital.

FF – A preocupação é nós conseguirmos dar o maior conforto aos doentes que entram, que estão numa situação aguda e que precisam, e que já está decidido que têm internamento. O nosso objetivo é ter aqui uma forma ágil de os colocar rapidamente num quarto, só com uma cama, na maior parte das vezes, ou com duas, com casa de banho, com todo o conforto que é devido aos utentes. A urgência, com a afluência que tem, não é certamente o local ideal para as pessoas permanecerem.

Com a grande afluência de doentes, temos situações em que o doente permanece mais de 24 horas a aguardar uma vaga numa cama de internamento. Não é certamente aquilo que desejaríamos. Por outro lado, aos doentes que têm alta, e numa perspetiva de humanização e de entender que as famílias nem sempre têm a possibilidade de vir logo buscar os doentes, garantir também que, não sendo naquele local onde permaneceram no internamento, têm um local agradável para ficar, mantendo a vigilância, e aproveitando esse espaço, também, para esclarecer dúvidas.

HN/RA