A posição do África CDC contrasta com a da Organização Mundial de Saúde (OMS), que sugere que a controversa vacina do conglomerado anglo-sueco seja ministrada mesmo em países onde a variante sul-africana do vírus SARS-CoV-2 esteja a circular amplamente.
O diretor da agência especializada da União Africana (UA), John Nkengasong, afirmou na conferência de imprensa semanal do Africa CDC, através da internet, a partir de Adis Abeba, que sete dos 55 Estados-membros da UA – África do Sul, Botsuana, Comores, Gana, Quénia, Moçambique e Zâmbia – registaram a variante e nenhum, para além da África do Sul, manifestou que essa presença fosse “avassaladora”.
A conferência decorreu um dia depois de a África do Sul ter anunciado que não utilizará a vacina da AstraZeneca, citando um estudo que sugere que a vacina apresenta resultados insatisfatórios na prevenção de doenças leves a moderadas causadas pela variante sul-africana da covid-19.
África só agora começa a receber vacinas contra a covid-19 em larga escala e as notícias desta semana da África do Sul, o país mais duramente atingido do continente, causaram choque.
O África CDC sustenta que os países africanos com a variante agora dominante na África do Sul devem acelerar os planos para as campanhas de vacinação com quaisquer vacinas anti-covid-19 que tenham recebido autorização ou aprovação de emergência pelas autoridades reguladoras, ao mesmo tempo que se considera a eficácia contra as variantes inicialmente surgidas na África do Sul e no Reino Unido.
Numa conferência de imprensa paralela, a responsável da Organização Mundial da Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moeti, incluiu a Tanzânia no lote de países onde circula a variante sul-africana da doença e sugeriu igualmente que todos os países devem avançar com as respetivas campanhas de vacinação com a vacina da AstraZeneca, ainda que tenham já a circular a nova estirpe do SARS-CoV-2.
“O que é importante é a oportunidade de se continuar a estudar a vacina” e a sua eficácia, considerou Moeti, citada pela agência Associated Press.
“Nós não vamos descartar a vacina da AstraZeneca”, declarou Nkengasong, por seu lado. “É uma boa vacina onde haja a variante e a variante não terá um impacto que submerja um país”, acrescentou.
Não só o África CDC aconselha que os países que registaram já a presença da variante sul-africana avancem com as campanhas de vacinação com a vacina da AstraZeneca, como “os países que não identificaram esta variante não têm absolutamente nenhuma razão para não a utilizarem”, acrescentou Nkengasong.
O continente africano registou uma diminuição média de 18% de novos contágios pelo vírus nas últimas quatro semanas, o que Nkengasong classificou como “encorajador”.
O responsável advertiu, porém, que os estudos mostram que mais pessoas foram expostas ao vírus do que os 3,7 milhões de casos confirmados, e que, “definitivamente, não estão a ser contabilizadas todas as mortes, especialmente na segunda vaga”.
A África tem mais de 96.000 mortes confirmadas, e o líder da OMS para África afirmou hoje que o continente irá ultrapassar na próxima semana o marco das 100.000 mortes.
Embora o recente ressurgimento de casos no continente tenha sido consideravelmente mais mortífero do que na primeira vaga, “África tem muito de que se orgulhar pela resposta inicial, e certamente fez muito melhor do que a Europa”, considerou Peter Piot, diretor da London School of Hygiene & Tropical Medicine, que participou no briefing da OMS.
Piot instou a que seja feita uma distribuição global equitativa das vacinas anti-covid-19, sublinhando que, uma vez mais, os países ricos estão a assegurar a maior parte das vacinas até agora produzidas, e recordando que foi necessária quase uma década durante os primeiros anos da pandemia do VIH-Sida para um número significativo de pessoas no continente africano terem acesso aos medicamentos contra esse vírus.
África tem sido até agora relativamente pouco afetada pela pandemia, representa apenas cerca de 3,5% dos casos de covid-19 e 4% das mortes em todo o mundo, de acordo com dados do África CDC. Muitos países africanos enfrentam agora, no entanto, uma segunda vaga de infeções, mais acelerada, e estão a fazer esforços no sentido de obter vacinas suficientes para deter o avanço da pandemia.
A OMS considerou “realista” o objetivo do continente de vacinar 30% da população africana até ao final do ano.
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